sábado, 26 de julho de 2014

Entrevista - Serrabulho




Humor sempre! É mais ou menos essa a filosofia da banda portuguesa Serrabulho, que soltou em 2013 o excelente disco “Ass Troubles”. Bem, pelo nome e pela capa do material, já se percebe que insanidade faz parte do cotidiano desse pessoal. Paulo (guitarra/vocal) e Ivan (bateria) – completam o time Toká (vocal) e Guilhermino (baixo) - falaram sobre o ‘debut’ e revelaram se podem ou não... defecar. Ah, e para manter o clima, o redator aqui optou por deixar o português de Portugal mesmo!



Poderiam dar um breve histórico do grupo para o público brasileiro?
Paulo: Viva! Serrabulho surge em 2010 e até fim de 2011 estivemos fechados na sala de ensaios, a criar as primeiras músicas e a ensaiar, ensaiar e ensaiar. Formámo-nos apenas com três elementos: eu na guitarra, o Guerra na voz e o Nogueira na bateria (este membro acabaria por sair em Maio de 2013).

Ivan: Eu e o Toká já tínhamos tocado juntos durante alguns anos noutra banda. Mal me convidaram para este projecto, é claro que aceitei logo. O convite surgiu numa Quarta-Feira. Quinta-Feira tive o primeiro ensaio e, no dia seguinte, já estava a javardar com eles,  em Palencia [ES,] no Brutólogos. So há cerca de um ano é que Serrabulho tem uma formaçao estável e efectiva e tem sido fantástico, pois damo-nos super bem e, acima de tudo, gostamos muito uns dos outros.




Por que vocês não colocaram as letras no encarte? O mundo precisa acompanhar o que a Serrabulho tem a dizer!

Ivan: Simplesmente porque não aconteceu. Talvez de futuro. Vamos pensar nisso.



Em especial, como nasceu a letra da “romântica” “Quero Cagar e Não Posso”?
Ivan: Todas as letras são baseadas em coisas que se passaram conosco ou que nos foram relatadas por pessoas próximas. Neste caso surgiu porque um de nós estava aflito na altura. Será que nunca te aconteceu?


Por que não podem cagar?
Paulo: Nós podemos (risos), mas existe sempre alguém que não pode ou não consegue!
Ivan: Olha, ainda este fim de semana queria cagar e estava a meio de um concerto. Ainda não consigo cagar e tocar bateria ao mesmo tempo.


Mas de modo geral, de onde surgem as inspirações para as letras? A julgar pelos títulos, vêm mais do cotidiano, do que de livros e filmes, é isso mesmo?
Paulo: São situações que aconteceram, na maior parte das vezes! Com amigos ou em locais - concertos, festas, acampamentos… - onde eu e o Guerra nos encontrávamos. Muita inspiração vem disso mesmo: da realidade.
Ivan: As inspirações vêm de todo o lado. Das coisas boas e más, de tudo mesmo!



Quem teve a ideia da “linda” capa?
Ivan: Serrabulho tinha uma ideia e transmitiu-a a Marta Peneda que, no meu ponto de vista, fez um excelente trabalho. Ela também fez o nosso logotipo. Basicamente ela é artista, maluca  e gosta de pornô - tinha tudo para fazer um excelente trabalho!


Ao que parece, o baterista Ivan Saraiva foi efetivado logo após as gravações de “Ass Troubles”, foi isso mesmo? Porque Nuno Nogueira, que gravou o disco, acabou saindo? Ou ele foi apenas um músico de estúdio?
Ivan: O Nogueira foi o primeiro baterista de banda mas, quando Serrabulho começou a  crescer, começaram a aparecer mais concertos e ele não tinha a disponibilidade necessária. Entretanto foi pai e tornou-se mesmo impossível arranjar tempo para continuar. A banda precisava de alguém maluco, bem disposto, que não soubesse fazer filhos, que soubesse  pegar nas baquetas e fui contratado com todo o gosto!




Como tem sido a receptividade do público em relação ao disco? Qual a música que eles mais pedem?
Paulo: O público adora o nosso álbum, seja a música ou o layout. A que pedem mais em concertos é a “Quero Cagar e Não Posso” – é sempre cantada em uníssono -, mas as dez músicas do álbum são muito bem recebidas, felizmente. Até os dois novos temas que andamos a rodar já são muito bem aceites e “concorridos”, em termos de adesão.
Ivan: Em relação ao disco: bastante acima das nossas expectactivas. Em relaçao aos concertos, também é costume o público pedir para tocarmos a “Pubic Hair in the Glasses” mas, regra geral, no fim de cada set eles querem é logo outro concerto inteiro. Creio que, pelo público, não saíamos do palco.


E para vocês, qual a música que melhor representa o álbum?
Paulo: É dificil escolher, mas “Toco Loco du Moi” ou “Don´t Fuck With Krusty” representam bem o “Ass Troubles”.
Ivan: Não posso enunciar uma música para representar o álbum, pois ele é representado por todas.


A Serrabulho surgiu em 2010 e três anos depois lançou seu ‘debut’. Vocês não soltaram nenhuma demo ou EP antes. Como vêem essa questão? Afinal, hoje em dia é até mais comum bandas lançarem esse material antes de um disco completo.
Paulo: Pensamos nisso, mas o EP não era a nossa aposta! Nós queríamos apostar em grande e foi isso que fizemos! Muitas bandas lançam um EP e, depois de tanto trabalho, tempo, energia e investimento dispendidos, elas acabam. Nós achamos que o EP podia carregar esse anátema (risos), por isso avançamos para o disco de longa duração.
Ivan: Acho que lançar um EP é como dar meia foda e eu, regra geral, curto dar duas fodas e meia.




Fiz essa pergunta certa vez para o pessoal da Brutal Brain Damage e acho que seria interessante para vocês responderem-na também. Foi mais ou menos assim: “qual a importância de se ter humor na música extrema”?
Ivan: Aborrece-me completamente ver bandas só pela musica. Adoro movimento, animação e boa disposição. Consegues ter maior receptividade do público com cenas engraçadas e o público interage muito mais. Este ano, no SWR - Barroselas Metalfest, um fã disse-me que Grind é protesto e eu não discordo, mas numa altura de tanta agitação social e “negritude” mundial, para quê estar sempre a alimentar uma cena, sem qualquer sentido de humor?


Ainda em relação a isso, há os fãs que não aceitam certas brincadeiras dentro desse tipo de música. Vocês já sofreram algum preconceito por parte dos “reais” por brincarem em suas composições?
Paulo: Nenhum, até ver. Temos, inclusivamente, fãs que nos dão ideias/brincadeiras para as músicas, actuações e próximos albuns (risos). Isso prova que eles sabem que as brincadeiras são positivas e sem maldade!
Ivan: Já me partilharam pontos de vista diferentes, mas nunca senti qualquer tipo de preconceito. E eu, por norma, sou avesso a preconceitos ou mentes tapadas.


Portugal tem hoje, na minha humilde opinião, uma das melhores cenas underground da atualidade. Apesar das inúmeras bandas de qualidade incrível, a impressão que tenho, aqui do Brasil, é que vocês não têm o espaço devido para divulgar o trabalho de vocês. Estou certo em minha consideração ou não é bem assim?
Ivan: Esta pergunta fez-me pensar uns minutos. Para começar, Portugal é um pais pequeno e com muita pouca visibilidade nos mercados proeminentes. É sempre mais “fácil” qualquer editora pegar numa banda de um país menos periférico.
Eu “alimento” o underground nacional há já uns anos. Sinto muito carinho pela cena Portuguesa e, diga-se o que se disser, eu acredito que se vivem tempos muito saudáveis. Acho que o underground na Ucrânia, nos dias de hoje, deve estar bem pior. Depois há o facto de por eu já ter cerca de dezoito anos de underground nacional e fica sempre qualquer coisa no coração. Há muita gente querida e são esses que nos “alimentam”.




Curiosidade: vocês já comeram serrabulho? Afinal, vocês colocaram até a receita de preparo no encarte do disco...
Paulo: Eu adoro sarrabulho e acabo sempre por comer, nas matanças de porco a que sou convidado. Tenho muitos amigos e familiares que têm a tradição da matança do porco. Usámos a receita, por acharamos ser algo original para o booklet de um cd (risos) e a reacção foi óptima! E é mais uma alusão à nossa zona!
Ivan: Toda a vida fui louco por papas de sarrabulho e bifanas. A banda chama-se Serrabulho por ser de Trás-os- Montes, atrás da Serra do Marão. Há cerca de dois meses comi umas papas que deviam estar estragadas e andei cinco dias com alta caganeira de esguicho - algo de que nunca tinha sofrido antes. Conclusão: as papas são espetaculares para quem gosta, mas também podem ser perigosas.


Agradeço a entrevista, pessoal! O espaço é de vocês!
Ivan: Quero aproveitar o espaço para dizer que, um dia, espero tocar no Brasil e desejo que, no geral, as pessoas se relacionem apenas a coisas positivas e com humor.



Um comentário: