sábado, 1 de setembro de 2012

Entrevista - Desalmado




A cena Grind brasileira (e por que não dizer, a gringa também) está em polvorosa. A Desalmado soltou, há quase dois meses, seu ‘debut’, autointitulado (ler resenha aqui). O agora quarteto (a baixista Maria Piti não faz mais parte da banda) formado por Estevam Romera (guitarra), Caio Augusttus (vocal), Ricardo Nutzmann (bateria) e Bruno Teixeira (que largou a guitarra e assumiu as quatro cordas), concedeu uma entrevista ao blog Som Extremo, na qual revelou como está a atual fase do grupo, além de comentar, claro, sobre o novo petardo.


Som Extremo: Está saindo do forno o álbum autointitulado. De cara, o que podem dizer sobre ele? Não poupem detalhes (risos).
Estevam Romera: É nosso primeiro disco de verdade, com gravadora, lançamento, prensagem e tudo mais. Então é algo muito especial para nós. Foi um álbum que nos dedicamos por mais de três anos. Não para sair perfeito, mas para sair mesmo. Gravamos ele duas vezes (não por vontade nossa) e, para mim e para banda, o lançamento desse disco está carregado de histórias, boas e ruins. Além disso, nosso sentimento é de uma conquista muito grande. Insistência, teimosia, vontade de fazer o lance acontecer.

Som Extremo: Por que tiveram que gravar o disco duas vezes? O que houve?
Bruno Teixeira: Tivemos problemas com os arquivos da primeira gravação e fomos obrigados a gravar tudo novamente. Atrasou o lançamento do disco, mas também fez com que muita coisa nele fosse melhorada.

Som Extremo: Como foi o caminho até chegarem ao selo gringo Greyhaze Records?
Bruno Teixeira: Na verdade foi a Greyhaze que nos procurou. Viram o clipe da música "Hereditas" (http://www.youtube.com/watch?v=3iRpRdogv14) e entraram em contato conosco. Tudo muito pé no chão, a ideia é de fazer um trabalho bem feito, a longo prazo. Acho que a principal palavra que define o nosso trabalho com a Greyhaze é “parceria”.


Som Extremo: As letras são em português. Vocês acham que isso pode ser alguma barreira para o público gringo, visto que o álbum saiu por um selo internacional?
Caio Augusttus: É uma barreira, mas vai depender do gringo que estamos falando, é relativo e depende do fã. Tem doido que vai atrás de coisas novas e o idioma está incluso. Sinceramente, entendo como uma barreira, porém, é o que tem funcionado. Se um dia rolar uma vontade de escrever em inglês, nós o faremos, mas depende da nossa vontade.

Som Extremo: A produção do CD está um capricho só. Como foi trabalhar com Jean Dolabella e Augusto Nogueira? Eles os influenciaram de alguma maneira nas composições?
Estevam Romera: O Jean apareceu sem querer nessa historia. Ele é amigo de longa data e tem um estúdio em casa. Quando soube do infortúnio com a primeira gravação do CD, prontamente se ofereceu para nos ajudar a regravar e começar do zero, o que acabou nos salvando e até melhorando o resultado final de algumas músicas. Eles não chegaram a dar pitaco em composição, mas são muito mais experientes do que a gente e com certeza nos deram outra visão, tanto do processo de composição quanto do de gravação. Eu particularmente aprendi lições valiosas trabalhando com eles: timbre de som, tempo de riff, tempo de virada, enfim... Tem gente que prefere trabalhar com alguém que simplesmente aperte o “Rec” e depois arruma os erros no computador. Eu prefiro aprender, saber corrigir e fazer direito. E ao trabalhar com eles, percebi o quanto cru estamos e o quanto sempre se tem a aprender.


Som Extremo: O que podem falar sobre a faixa bônus “Cozido para Animais”, cover da banda alemã Japanische Kampfhörspiele?
Ricardo Nutzmann: A banda Japanische Kampfhörspiele é uma grande referência para nós, e uma das maiores bandas de grindcore da Alemanha, mas que infelizmente acabou logo após o último trabalho “Kaputte Nackte Affen”, em 2011. Vimos no site que eles lançariam um tributo a eles mesmos, e que as bandas interessadas teriam que escolher uma música, gravar e enviar para que fosse analisada para aprovação ou não. Fomos selecionados e a música saiu na coletênia com mais setenta bandas. Gostamos muito da música que regravamos, fizemos um videoclipe com as imagens da gravação (http://www.youtube.com/watch?v=uny0Nv6-RFA&list=UUUxCRChFJ4adv94rKAvYnUg&index=5&feature=plcp) e decidimos incluí-la como faixa bônus no CD.

Som Extremo: E sobre a música “Delírio”, datada originalmente de 2006? Por que a escolheram para regravar?
Bruno Teixeira: A "Delírio" foi escrita há oito anos e, desde então, nunca a deixamos de fora dos shows. É uma música simples, mas até hoje é uma das que mais gostamos de tocar. Achamos que ela merecia ter uma versão com uma gravação melhor.


Som Extremo: Vocês flertam com o Death Metal em um ou outro momento do disco, como na faixa “Anticristo”, por exemplo. Concordam com isso? Se sim, essa seria uma tendência para os futuros trabalhos?
Caio Augusttus: Flertamos com o Death Metal porque gostamos do estilo e afinal, o Grindcore é composto por essa vertente. Acho muito difícil os futuros trabalhos terem uma pegada voltada para o Death Metal, a tendência é continuarmos tocando Grindcore e voltar as nossas influências para o Punk e Crossover. São ideias, apenas pensamos que devemos manter intacta a nossa veia, que é o Grindcore, o resto é lucro.

Som Extremo: A turnê europeia de 2011 os influenciou de alguma maneira na composição do novo disco ou elas já haviam sido criadas antes da viagem?
Bruno Teixeira: O disco já estava escrito e gravado quando fomos para a turnê, então não teve essa influência. O que posso dizer é que a turnê nos influenciou na postura de palco, melhoramos muito ao vivo. Não tem como, trinta dias convivendo com os caras e tocando quase todos os dias refletiu muito no que o Desalmado é hoje nos shows.

Som Extremo: O CD “Desalmado” saiu em digipack. Vocês pensam em lançá-lo em vinil, como fizeram com o EP “Hereditas”?
Bruno Teixeira: Ainda não temos planos para lançar o novo álbum em vinil, pois tem toda uma logística por trás disso, além de ser um investimento caro para qualquer selo underground. Tem que esperar um tempo, espalhar o CD por aí para ver se conseguiremos lançá-lo em vinil.


Som Extremo: Atualmente, a baixista Maria Piti não faz mais parte da banda. Com isso, Bruno abandonou a guitarra e foi para o baixo. Vocês se sentem confortáveis dessa maneira ou pensam em encontrar alguém para as quatro cordas?
Ricardo Nutzmann: O Desalmado em quarteto não foi planejado, mas agora já estamos nos sentindo confortáveis assim. O som está mais limpo, porque o Grindcore já é um estilo mais sujo e, com duas guitarras, os riffs ficam ainda mais indefinidos ao vivo. Hoje, com uma guitarra e um baixo, conseguimos atingir uma definição melhor do nosso som nos palcos.

Som Extremo: Além do clipe de “Canibal Social”, recentemente lançado, existem planos para outros?
Estevam Romera: Não sei sobre o formato de clipe. A gente não curte clipe com historinha - a não ser que seja bem feito ou tenha um proposito real - então a gente está sempre pensando em algum jeito legal de mostrar a banda tocando de verdade. Então não sei se o próximo clipe vai ser só um clipe de uma música, talvez seja algo mais interessante, mostrando mais que a gente fingindo que está tocando um playback do disco.

Som Extremo: Na opinião de vocês, como anda a cena Grind brasileira atual?
Caio Augusttus: Vivemos o melhor momento do Grindcore na história, tem muita banda boa, todos procurando fazer um som de qualidade e com personalidade. Tudo melhorou, as bandas se conhecem, mas o público, no geral, continua o mesmo. A renovação é bem pequena e acredito que não mude muito. Quer fazer Grindcore, faça porque gosta de verdade. Caso espere outra situação, é melhor desistir do estilo e ir tocar música cover, Jazz, Soul e Funk na noite.


Som Extremo: Agradeço a entrevista, pessoal. Fiquem à vontade para as despedidas (risos)!
Bruno Teixeira: Valeu demais, Som Extremo! Internet é um meio extremamente importante para compartilhar informações e o Som Extremo é um grande exemplo disso. É o mesmo discurso há anos, mas se cada um fizer o seu papel, conseguiremos ter cada vez mais bandas com um mínimo de estrutura para mostrar o seu som. Uma das coisas mais legais em oito anos de Desalmado são os amigos e os camaradas que vamos fazendo durante este tempo todo.  E você é um deles, Christiano, valeu pela força e parabéns pelo trabalho com o Som Extremo!
Abraço do Disa!

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