Nesse mini especial, acompanhe resenhas de dois clássicos da RDP relançados, seguidas de uma interessante entrevista com o baixista da banda, Juninho Sangiorgio.
Ratos de Porão – Brasil
Eldorado/Voice Music – 1989/2012 (relançamento) - Brasil
Ao me preparar
para dormir, decidi reviver toda a emoção de escutar o primeiro CD que comprei
na vida: “Brasil”. Só que dessa vez, foi escolhi o relançamento da Voice Music,
que colocou o material no mercado em formato digipack, com três bônus e um
encarte reformulado, com várias fotos da época.
Não é à toa
que o disco é tido por uma enorme parte dos fãs como favorito (e estou inserido
nessa fatia) da discografia da RDP: tudo nele é perfeito, desde letras (muito
atuais ainda), produção, arranjos, performances, ilustração da capa, enfim,
tudo mesmo.
Quem consegue
se segurar ouvindo clássicos absolutos como “Beber até Morrer”, “AIDS, Pop,
Repressão”, “Crianças Sem Futuro”, “Vida Animal”, “Herança” e vários outros? A
injustiça, aliás, é toda a lista não ser chamada de clássica, mas enfim...
Talvez nunca
tenha se visto um João Gordo (vocal) tão afiado, um Spaghetti (bateria) tão
veloz, o Jão (guitarra) tão irado e um Jabá (baixo) tão empenhado.
Talvez alguns
não saibam, mas a banda gravou, na época, duas versões do álbum: uma em
português e outra em inglês (assim como fez com “Cada Dia Mais Sujo e
Agressivo” e “Anarkophobia”). As faixas bônus, portanto, foram tiradas da
versão “gringa”: “Bloody Pig”, “Animal Life” e “Military Machine”.
O
lance é que é impossível explicar o quão bom é esse trabalho. Peço licença para
mencionar um fato pessoal e realmente inesquecível e histórico: em 2007, a RDP
tocou no festival Araraquara Rock, ocorrido na cidade de mesmo nome, no
interior de São Paulo e, surpreendendo (mesmo) todos, após tocar alguns
clássicos da carreira, Gordo vai o microfone e anuncia: “Nós nunca fizemos isso
na vida. Será a primeira vez. Vamos tocar ‘Brasil’ na íntegra”. Pra quê? Entrei
em transe e só me lembro de, após a apresentação, ter voltado para a casa sem
pescoço e completamente rouco. Era uma prévia e tanto do que seria a
comemoração dos vinte anos desse marco.
Pra falar de
boca cheia: uma das maiores, se não a maior OBRA-PRIMA do Hardcore/Crossover
nacional! Nota 11 com extremo louvor!
Nota 11,0
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Ratos de Porão – Anarkophobia
Eldorado/Voice Music – 1990/2012 (relançamento) – Brasil
Quase tão
clássico quanto o ‘full length’ anterior – “Brasil” –, “Anarkophobia” conta com
uma produção mais apurada e limpa, além de uma sonoridade um pouco mais
trabalhada. Nem por isso deixou de ser uma tremenda porrada na fuça.
Existem aqui
também faixas espetaculares, como “Sofrer” (letra fantástica, sempre presente
nos shows), “Ascenção e Queda” (fenomenal, tanto o instrumental quanto o modo
como o canto é encaixado), “Mad Society” e a insuperável “Igreja Universal”.
E apesar de
não ser assim tão lembrada (embora venha sendo executada atualmente), “Ódio³” é
um primor. O lindo começo acústico, transformado em sofrimento (barulhento) é
de tirar o chapéu. Violentíssima! E para constar: o petardo conta com o cover
de “Commando”, dos reis do Punk, Ramones.
E falando em
letras, elas, que sempre foram um dos pontos fortes da banda, merecem destaque ainda
maior neste trabalho: além da citada “Sofrer”, outras maravilhas como “Escravo
da TV”, “Contando os Mortos” e, para quem simpatiza com ideologia da RDP, a
também mencionada “Igreja Universal”, contam com conteúdos inspiradíssimos.
Este trabalho
também foi relançado recentemente em digipack pela Voice Music e conta com cinco
bônus: “Jardim Elétrico”, “(All We Need is) Hatred”, “Death of the King”, “Counting
the Dead” e “Universal Church”. À excessão da primeira, cover da Mutantes, as
demais são versões em inglês de músicas do próprio CD.
Além disso, o encarte reelaborado, com mais
fotos. Oportunidade para ouvir esse grande material não falta, portanto, já que
está fácil de adquirir.
Mais um disco
soberbo na carreira dessa ratazana, considerada um dos mais importantes grupos do
planeta no Hardcore/Crossover. Não é para menos. E “Anarkophobia” é (mais) um
grande atestado dessa verdade absoluta.
Nota 8,5
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Entrevista - Juninho Sangiorgio
Cá está o blog em sua segunda entrevista com Ratos de Porão. Em 2011,
João Gordo a concedeu (ler aqui)
e agora, é a vez do simpático baixista Juninho Sangiorgio, último membro a compor
a formação atual do time, falar muita coisa interessante. Duvida? É só
continuar lendo...
Som Extremo: A que você acha
que se deve o carisma da RDP?
Juninho: Por ser uma banda formada por amigos.
Ninguém tem “obrigação” de ser gente fina, de manter esses anos de banda. Tudo
isso acontece porque todo mundo é bem amigo e está nessa pelo som e pela
amizade, então isso reflete de certa forma como carisma para o público.
Som Extremo: Essa formação do Ratos parece ser a mais
estável de toda a história do grupo. Em sua opinião, por que acha que houve
tantas mudanças, especialmente de baixistas?
Juninho: Eu conheço todas as histórias das saídas
dos baixistas e, pela boca dos caras, é só um pouco mais de detalhes do que no
filme “Guidable”, que conta todas essas passagens dos membros. Acho que foram
momentos específicos ali que os caras não estavam mais na mesma vibe dos outros
integrantes. Eu entrei na banda e me moldei totalmente aos caras, pois você
imagina a quantidade de vícios em fazer as coisas que eles já têm, então,
entrando na vibe deles, tudo rola bem.
Som Extremo: Todos os membros são focados em fazer a
sonoridade característica da banda ou cada um traz elementos destoantes, mas
que no fim conseguem adaptar às composições?
Juninho: As influências para composições são bem
genéricas. As ideias vêm de todos da banda e cada um tem sua forma de pensar,
mas no final, sempre fica com cara de Ratos, pois se tornou bem característico
a forma de cada um tocar ali, ao ouvido de todos.
Som Extremo: Em uma entrevista feita com o Gordo em 2011,
ele disse que queria fazer umas músicas mais Grindcore, mas que não foi
possível. Será que no próximo trabalho, o Ratos estará ainda mais extremo?
Juninho: O Gordo tá ouvindo Grind pra caramba nos
últimos tempos. Eu percebo pelos rolês da Europa: a gente chegava nos festivais
e ia comprar só os discos mais podres que tinham nas banquinhas. O Ratos nunca
vai virar Grind. Isso foi um pouco de força de expressão dele. Nossos sons
novos tão bem porrada e bem violentos, digamos que tem muitas partes Crusts
baseadas nas bandas de Grind (risos).
Som Extremo: Sua performance nos palcos é caracterizada
por saltos empolgados, aliás, é algo que sempre chama a atenção nos shows. O
que pode dizer sobre isso? Veio de maneira natural ou você queria uma marca
registrada?
Juninho: Veio de maneira natural. Tem uns vídeos
meus da época do Self Conviction, em 97, que tô lá tocando e dando uns saltos.
Acho que consigo saltar meio alto pelo fato de ignorar o peso e tamanho do
baixo nos shows, porque se fosse ficar pensando muito nisso, não sairia do
lugar. Mas a música faz ali seu papel de entrar na mente de uma forma incrível
e aí, a vontade de agitar flui.
Som Extremo: E sobre o DVD do show com a reunião celebrando
os trinta anos de RDP, houve um problema no áudio, certo? A situação já foi
contornada? Há previsão de lançamento?
Juninho: Isso está meio confuso, tivemos um problema
técnico no áudio e perdemos muitas músicas ali por esse motivo. Ainda estão
rolando umas reuniões para ver o que vai acontecer e por enquanto, também sem
previsão, mas a situação será contornada sim.
Som Extremo: Existe a possibilidade de que vocês façam
uma nova comemoração, para regravar todo o material? Se sim, será que agora o
Pica Pau apareceria?
Juninho: Temos sim esse projeto, ficou muita gente
pra fora do show que fizemos ano passado no Hangar e, fora esse, tem muita
gente fora da cidade pedindo esse show.
É difícil de fazer, é gente demais, equipamento, passagens de avião e o pior de tudo, agendar uma data legal para todos, mas vamos torcer pra rolar sim. O Pica Pau não vai não, o negócio dele é outro.
É difícil de fazer, é gente demais, equipamento, passagens de avião e o pior de tudo, agendar uma data legal para todos, mas vamos torcer pra rolar sim. O Pica Pau não vai não, o negócio dele é outro.
Som Extremo: Além do Ratos, você tem projetos paralelos?
Juninho: Tenho sim, alguns por sinal. O mais ativo é
O Inimigo, onde toco guitarra e, nos últimos tempos, me dediquei bastante à
banda. Gravamos um disco, fizemos muitos shows e também, para o futuro, tem
bastante coisa marcada. Além dessa, também toco no Eu Serei a Hiena, uma banda
bem mais tranquila, mais na linha Sonic Youth, Fugazi, só sons instrumentais e,
no momento, estamos fazendo poucos shows. E o Discarga, que é onde a galera do
Ratos me conheceu, mas no momento nosso vocalista mora fora do país e a banda
está parada.
Som Extremo: Em 2007, vocês comemoraram vinte anos do
disco "Brasil" - tido por muitos fãs como o mais querido - tocando o
álbum na íntegra. Na ocasião, Araraquara/SP foi a primeira cidade onde
realizaram o intento, ao tocarem no Araraquara Rock. Como avalia a performance
de vocês naquele show?
Juninho: Na verdade o “Brasil” completou vinte anos
em 2009, mas de qualquer forma, foi um show especial que estávamos ensaiando para
tocar na Verdurada aqui em São Paulo. Como o show de Araraquara foi um dia
antes, aproveitamos para mandar bala ali mesmo. Quem viu, acho que jamais
esquecerá! (N.R.: ele está certo)
Som Extremo: Dentro disso, mesmo não estando na banda na
época, como avalia a importância do relançamento de “Brasil” e “Anarkophobia”?
Juninho: São dois monstros da discografia mundial do
Crossover. Os discos estavam sumidos, daí o Silvio, do Korzus, mexeu os
pauzinhos para relançar. Eu acho demais ter saído em digipack também. Bom, o “Brasil”
é meu disco favorito do Ratos; na sequência, vem o “Carniceria Tropical”, e vou
te falar que são os dois discos que eu mais escuto para compor sons. O “Anarkophobia”
é demais! Apesar de ter umas partes muito longas e tal, eu gosto muito e,
ultimamente, estamos tocando o começo dele nos shows.
Som Extremo: O que pode adiantar sobre o tributo ao RDP?
Quais as bandas que farão parte da homenagem e quando será lançado? Por qual
selo?
Juninho: Detalhes, eu ainda não sei te passar. Sei
que nosso camarada Dru está fazendo todo o corre de falar com as bandas, trocando
mil e-mails, e organizando tudo. Sei também que vai ter Cripple Bastards,
Korzus, Kriziun, Leptospirose, Macakongs, ByWar, HillBilly RawHide etc (N.R.:
Violator também fará parte).
Som Extremo: E sobre “No Money No English”, que está sendo
lançado agora, o que pode dizer? Existem faixas já de quando você estava na
banda? Qual a previsão para lançamento em CD?
Juninho: Eu peguei uma cópia aqui esses dias e vou
te falar que está legal pra caramba!! O som ficou muito bom, a arte toda com
aquela capa do Marcatti, demais!!
Só tem músicas da fase do Fralda pra trás, não tem nada comigo ali. Também não sei te dizer quando sairá em CD, mas como foi lançado pela Läjä Records, só escrever ali pros caras quem tiver interesse, que eles informam.
Só tem músicas da fase do Fralda pra trás, não tem nada comigo ali. Também não sei te dizer quando sairá em CD, mas como foi lançado pela Läjä Records, só escrever ali pros caras quem tiver interesse, que eles informam.
Som Extremo: Além de mais esse material, vocês já estão
com composições para um novo trabalho, certo?
Juninho: Estamos sim. Os ensaios semanais estão indo
bem, um pouco devagar, mas tá rolando (risos). Já temos uns oito sons, tá tudo
bem rápido, bastante barulheira misturada com Metal. Eu tô curtindo pra caramba
e certeza que vai sair um ótimo disco. Tínhamos um plano de marcar a gravação para
novembro, não sei se vai manter ou adiar. Será gravado aqui no Brasil mesmo, lá
no estúdio do Rafael, da Deck no Rio.
Som Extremo: De sua entrada no RDP até hoje, de que forma você
acha que influenciou na banda? Desde compor músicas, até mudar os hábitos
alimentares do Boka e do Gordo, enfim, tudo (risos)!
Juninho: Acho que minha influência maior é de ser straight edge. Isso veio em uma época em
que todos da banda estavam dando uma boa freada nas paradas de doideiras, daí
eu era um a menos no time, que não usava nada. Aí, rolou naturalmente uma
diminuída legal nesse sentido. O Boka já era vegetariano desde antes de eu
entrar na banda, mas com o Gordo virando depois, rolou uma influência sim. Ele
me ligou na época, estava fazendo uma dieta totalmente vegetariana e achando
legal. Eu o incentivei a continuar assim para ver o que ele achava e tal, daí,
no final, o cara está sem comer carne há uns anos, legal demais! Na parte
musical, é uma cabeça a mais para pensar e dar ideias, então isso só tem a
somar no time. Eu chego com umas bases, o Jão toca elas do jeito dele, fica uma
mistura que funciona.
Som Extremo: Para finalizar, existe algum fato
interessante sobre o Ratos de Porão que nunca foi revelado?
Juninho: Existem vários!!! Mas se depender de mim,
vão continuar assim!!!
Som Extremo: Agradeço a entrevista, Juninho. Por favor,
deixe seu recado final.
Juninho: Eu que agradeço a entrevista e peço
desculpas pela demora na resposta. Saí de rolê com a namorada, fiz mil shows,
adotei e doei cachorro, muita correria... valeu!!!
Grande Banda! Grande Abraço de Portugal!!!!!
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