sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Entrevista - La Tormenta




A La Tormenta surge como uma força que alia o Grindcore com o Viking Metal. Lançando o ‘debut’ “Midgard Grind” (em formato virtual), a banda conta com participações especiais no registro e muito barulho por aí. Quem conta mais sobre o grupo, sobre o álbum e a mistura de estilos é o vocalista Cremo Pepe.

Som Extremo: Poderia falar brevemente sobre a banda? Como surgiu o nome?
Cremo Pepe: A La Tormenta surgiu no meu trampo. Um dia topei o Diego (guitarrista) no corredor, a gente não se conhecia, e ele estava com uma camisa de metal, me comprimentou e assim seguiu por dias. Até que um dia paramos e conversamos e ele disse que queria fazer um som. O Roberto Marra (que ja saiu da banda) tinha aprendido a tocar bateria a pouco tempo e resolveu abraçar o projeto. Depois de três semanas de ensaio, conseguimos um baixista. Sim, Grindcore em Uberlândia é foda cara, muito dificil.
O nome vem em relação a cultura escandinava, "La Tormenta, a tormenta, todo aquele mal que atacava as terras saxãs, os monstros na proa dos navios vikings, surgindo nas encostas e colocando o povo em povorosa, isso é La Tormenta”.

Som Extremo: Aparentemente, a banda tem uma raiz na Argentina. É isso mesmo?
Cremo Pepe: De certo modo sim, eu gosto muito da Argentina e por ter sido o mentor da banda, acaba que mesclou um pouco as influências. Eu gosto do underground de lá, das pessoas e da cultura, é um país muito diferente do nosso, mesmo com tanta proximidade. Se enganam aqueles que pensam que o argentino é um ser superior e arrogante, isso acontece só no futebol, por causa da rivalidade que eu acho que deveria ficar só no campo. Nunca fui tão bem tratado como fui lá e digo tem muita banda extremamente boa por lá.
Há relatos que ainda consegui comprovar se são de fato verdadeiros que os vikings chegaram até a Argentina, mas já vi bastantes comentários sobre isso, como já foi comprovado que eles foram os primeiros a chegar na América (Canadá), acredito que possam ter chegado na Argentina também.

Som Extremo: Vocês se autointitulam Grind Viking Core. Como surgiu a ideia de juntar esses estilos e ideologias?
Cremo Pepe: Eu acredito nos deuses vikings, curto o som, e a banda inteira é de "metaleiro", exceto eu, que nasci e cresci dentro do punk. Mas veja, a primeira banda que eu ouvi foi Ratos de Porão, eles são os culpados de eu estar nesse buraco (risos). Então eu já comecei ouvindo um som muito pesado. Depois é que fui conhecer bandas como Calibre 12, Lixomania, Uslter, Dödelhaie, Forca Macabra, Inocentes, Restos de Nada e uma imensidão de punk por aí, mas escuto de tudo, do Hardcore NY ao Death Metal, e a influência de um som sujo, pesado e rápido me instigava a mesclar com o Vikin Metal, que já e um negócio mais cadenciado.
Apesar da base da La Tormenta ser Grind , temos umas introduções mais vikings, e músicas que já são claramente influenciadas pelas terras de Odin, como “La Tormenta”, “Anchas Escudos y Espadas” e “Ordo Ab Chao”, entre outras .
Eu estava parado, há três anos sem tocar. Eu tinha uma banda chamada Desordem Social, que era Punk Rock/HC (chamada antes de Dead Bush), e decidi que, se voltasse, seria Grindcore com Viking Metal, algo que nunca tivesse existido, que ninguém tivesse tentando. Temos muito a melhorar, somos conscientes disso, e claro, acredito que o primeiro passo foi muito bem dado. Ficamos contentes com o resultado, recebemos boas críticas.

Som Extremo: O instrumental é Grindcore, mas alguma letras têm temáticas Viking. Você concorda com isso?
Cremo Pepe: Sim, relaciona um pouco com o que eu disse na pergunta anterior, mas algumas músicas são mais Vikings, como “Anchas Escudos y Espadas”. Tem claramente a influência do Punk também na banda, vide que sou eu que escrevo todas as letras, vindo do Punk, isso nao poderia faltar. Como “Mina Punk”, que foi uma música escrita em 2004, referente à presença das garotas, não só no meio Punk, mas em todas as alas do underground, onde acredito que deveria ser mais efetiva e tratada de igual para igual, e “U.S.A.”, que é uma música bem política.
Deixamos claro que não somos de fato contra o cristianismo (exceto nosso baixista o Hudson): sou contra a manipulação da fé das pessoas, e acredito que, com cautela e dissernimento, você pode acreditar no que quiser, sempre lembrando que quem faz é você. Mas uma coisa fica clara: somos todos contra o White Metal, e não concordamos com tal postura. O underground é um movimento libertário e, no mínimo, se White Metal existe, não devia se misturar, afinal, qual banda de Black Metal, Death Metal ou Punk Rock vai tocar em festival cristão ou em uma igreja? Acredito que nenhuma, assim eles também não deveriam interferir no "nosso" espaço.

Som Extremo: Ainda sobre a mistura de estilos de vocês, como é o processo de composição da banda? O instrumental é feito em função das letras ou são duas coisas independentes? Como escolhem qual tipo de letra será usada em determinada composição?
Cremo Pepe: Bom, de todas as músicas que temos, só uma foi feita antes da letra, que é "Reféns do Próprio Sestino", que o Arthur (ex-baixista), que hoje está na Dinamarca, fez. Todas as outras são em cima da letra: a gente chega, eu mostro todas as letras que eu escrevi e estão disponíveis, e aí, a gente entra em consenso e cria o som em cima da letra.
A parte musical fica por conta de Diego Ribeiro, ele é o mestre do negócio. Eu não sei tocar nada, mas entendo um pouco das notas. Nasci em uma família de músicos e não toco porra nenhuma, cara (risos). Eu explico mais ou menos a ideia e o resto é com os três. Com o tempo, a gente vai moldado. Para quem pensa que Grindcore é facil de ser feito, anti-música e etc, está muito enganado, é um som muito complexo de fazer, tem que ter pegada.

Som Extremo: Vocês acabaram de lançar o álbum “Midgard Grind”. O que pode falar sobre ele?
Cremo Pepe: É algo muito importante para nós, trabalhamos muito para fazer algo diferente e acho que conseguimos. Faltou grana para lançar o material físico, mas parte do sonho foi realizado, lançar algo que nunca foi feito, Grindcore aliado ao Viking Metal, em uma terra que já tem o costume de aparecer no cenário underground: Minas Gerais é rica nisso.
O nome “Midgard Grind” é em alusão à cultura viking: “Midgard” é reino dos humanos, o que, para as pessoas que não conhecem, seria a Terra, então, traduzindo, o nome seria "Terra do Grind".
Um fato que inclusive gostaria de comentar é sobre meu vocal. Algumas críticas surgiram em relação à voz, e queria deixar claro que o vocal era pra sair daquela forma mesmo, nem muito gutural e nem muito normal. As minhas influências na banda têm os picos de Extreme Noise Terror, Amon Amarth e Nasum. Sendo assim, seria uma mescla das três vozes, meio rasgado  e meio gutural, dentro do meio termo. É um vocal só meio, sem tentativas de cópias. Muita gente estranhou, pois está acostumada com grunhidos mais pesados (que também faço às vezes nos shows), mas prefiro a voz no meio da tabela.

Som Extremo: O disco saiu em formato virtual apenas, como você mencionou. Existem planos para lançá-lo em formato físico?
Cremo Pepe: Estamos correndo atrás de conseguir lançar esse material de forma física, mas falta dinheiro e temos muitos outros projetos em andamento, como um ‘6 way split’ na América do Sul, um ‘split’ ao vivo e uma turnê. Não sei qual conseguiremos primeiro, então é ir devagar. O underground é muito no “faça você mesmo”, todos têm suas responsabilidades e a banda é segundo plano. Trabalho, faculdade, a vida segue,  a gente tem que manter a pegada, de leve, tudo se resolve. Se você não faz, ninguém fará por você!

Som Extremo: Como foram as participações de Juninho (Ratos de Porão) e Fábio Prandini (Paura), além de outros dois amigos de vocês?
Cremo Pepe: O Fábio ia cantar a música “Fé Comercial”, mas teve problemas com o estúdio la em São Paulo e não conseguiu gravar a pista na última hora. Para não ficar de fora, ele gravou aquela introdução mesmo, fato que também aconteceu com o Dio (Gritando HC), que ia gravar a guitarra de uma pista. Outro que ficou de fora foi o Fernando Candado (Otra Salida). A porra da música não abriu no programa que ele usa no estúdio dele, em Buenos Aires. Emfim as participações não saíram como o planejado (risos). Já quanto ao Juninho, desde o começo, meu convite tinha sido só para introdução. Vale ressaltar a gravação em alemão, que foi feita por Camaleont, que é um punk alemão. Mandei o texto em inglês e ele traduziu para o alemão e gravou. No final de “Punk Girl” foi Pilar, uma amiga de longa data, quase uma professora de espanhol, que me ajudou bastante a polir algumas "palabras". Hoje, eu que ensino português para ela (risos).

Som Extremo: Agora que estão com o novo material, quais serão os próximos passos da La Tormenta?
Cremo Pepe: No dia 28 de outubro, tocaremos em São Caetano do Sul, com os sempre ‘brothers’ da Oligarquia Death Metal, banda com a qual vem muitas novidades lado a lado no próximo semestre.

Som Extremo: Agradeço a entrevista, Cremo Pepe. Fique à vontade para uma última mensagem.
Cremo Pepe: Peço para que o underground seja realmente unido. Vejo que existe muita gente querendo engolir um ao outro, muita gente que vive reclamando da sua "cena", mas quando dá entrevista, diz que está tudo às mil maravilhas. Vamos parar de ser falsos com nós mesmos e tentar mostrar algo que não está acontecendo de verdade. Acredito que existem muitas pessoas, muitas mesmo, bem intencionadas no underground, mas existe um número igual de sanguessugas tentando destruir o meio, pessoas que dizem ter uma postura e fazem algo totalmente fora da própria conduta que se rotulam. Não importa se é Punk, se é Hardcore ou se é Metal: respeitem-se e unam-se, independentemente de crenças, se é cristão, se é ateu, se é pagão, e por aí vai.
Agradeço todos que sempre me apoiaram, a banda e todos os meus projetos, minha família, Odin, Thor  Njord e todos os outros deuses que o mundo possa ter. A La Tormenta não quer fãs, quer amigos e guerreiros que estejam lado a lado sempre em prol do underground. Um verdadeiro rei, antes de tudo, é um guerreiro, e sempre colocará seu escudo em proteção de seu companheiro do lado, sua espada em prol de sua honra, e será o primeiro da fila a começar a luta.
Honra, amizade e lealdade. Nos dias de hoje, precisa-se muito disso. Obrigado a vocês pela oportunidade de nos expressar.
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