A La Tormenta surge como uma
força que alia o Grindcore com o Viking Metal. Lançando o ‘debut’ “Midgard Grind” (em formato virtual), a banda conta com participações especiais no
registro e muito barulho por aí. Quem conta mais sobre o grupo, sobre o álbum e
a mistura de estilos é o vocalista Cremo Pepe.
Som Extremo: Poderia falar brevemente sobre a banda? Como surgiu o
nome?
Cremo Pepe: A La Tormenta surgiu no meu trampo. Um dia topei o
Diego (guitarrista) no corredor, a gente não se conhecia, e ele estava com uma
camisa de metal, me comprimentou e assim seguiu por dias. Até que um dia
paramos e conversamos e ele disse que queria fazer um som. O Roberto Marra (que
ja saiu da banda) tinha aprendido a tocar bateria a pouco tempo e resolveu abraçar
o projeto. Depois de três semanas de ensaio, conseguimos um baixista. Sim,
Grindcore em Uberlândia é foda cara, muito dificil.
O nome vem em relação a cultura
escandinava, "La Tormenta, a tormenta, todo aquele mal que atacava as
terras saxãs, os monstros na proa dos navios vikings, surgindo nas encostas e
colocando o povo em povorosa, isso é La Tormenta”.
Som Extremo: Aparentemente, a banda tem uma raiz na Argentina. É isso
mesmo?
Cremo Pepe: De certo modo sim, eu gosto muito da Argentina e por
ter sido o mentor da banda, acaba que mesclou um pouco as influências. Eu gosto
do underground de lá, das pessoas e da cultura, é um país muito diferente do
nosso, mesmo com tanta proximidade. Se enganam aqueles que pensam que o
argentino é um ser superior e arrogante, isso acontece só no futebol, por causa
da rivalidade que eu acho que deveria ficar só no campo. Nunca fui tão bem
tratado como fui lá e digo tem muita banda extremamente boa por lá.
Há relatos que ainda consegui
comprovar se são de fato verdadeiros que os vikings chegaram até a Argentina,
mas já vi bastantes comentários sobre isso, como já foi comprovado que eles
foram os primeiros a chegar na América (Canadá), acredito que possam ter
chegado na Argentina também.
Som Extremo: Vocês se autointitulam Grind Viking Core. Como surgiu a
ideia de juntar esses estilos e ideologias?
Cremo Pepe: Eu acredito nos deuses vikings, curto o som, e a banda
inteira é de "metaleiro", exceto eu, que nasci e cresci dentro do
punk. Mas veja, a primeira banda que eu ouvi foi Ratos de Porão, eles são os
culpados de eu estar nesse buraco (risos). Então eu já comecei ouvindo um som
muito pesado. Depois é que fui conhecer bandas como Calibre 12, Lixomania,
Uslter, Dödelhaie, Forca Macabra, Inocentes, Restos de Nada e uma imensidão de
punk por aí, mas escuto de tudo, do Hardcore NY ao Death Metal, e a influência
de um som sujo, pesado e rápido me instigava a mesclar com o Vikin Metal, que
já e um negócio mais cadenciado.
Apesar da base da La Tormenta ser
Grind , temos umas introduções mais vikings, e músicas que já são claramente
influenciadas pelas terras de Odin, como “La Tormenta”, “Anchas Escudos y Espadas”
e “Ordo Ab Chao”, entre outras .
Eu estava parado, há três anos
sem tocar. Eu tinha uma banda chamada Desordem Social, que era Punk Rock/HC (chamada
antes de Dead Bush), e decidi que, se voltasse, seria Grindcore com Viking Metal,
algo que nunca tivesse existido, que ninguém tivesse tentando. Temos muito a
melhorar, somos conscientes disso, e claro, acredito que o primeiro passo foi
muito bem dado. Ficamos contentes com o resultado, recebemos boas críticas.
Som Extremo: O instrumental é Grindcore, mas alguma letras têm
temáticas Viking. Você concorda com isso?
Cremo Pepe: Sim, relaciona um pouco com o que eu disse na pergunta
anterior, mas algumas músicas são mais Vikings, como “Anchas Escudos y Espadas”.
Tem claramente a influência do Punk também na banda, vide que sou eu que
escrevo todas as letras, vindo do Punk, isso nao poderia faltar. Como “Mina Punk”,
que foi uma música escrita em 2004, referente à presença das garotas, não só no
meio Punk, mas em todas as alas do underground, onde acredito que deveria ser
mais efetiva e tratada de igual para igual, e “U.S.A.”, que é uma música bem
política.
Deixamos claro que não somos de
fato contra o cristianismo (exceto nosso baixista o Hudson): sou contra a
manipulação da fé das pessoas, e acredito que, com cautela e dissernimento,
você pode acreditar no que quiser, sempre lembrando que quem faz é você. Mas
uma coisa fica clara: somos todos contra o White Metal, e não concordamos com
tal postura. O underground é um movimento libertário e, no mínimo, se White Metal
existe, não devia se misturar, afinal, qual banda de Black Metal, Death Metal
ou Punk Rock vai tocar em festival cristão ou em uma igreja? Acredito que
nenhuma, assim eles também não deveriam interferir no "nosso" espaço.
Som Extremo: Ainda sobre a mistura de estilos de vocês, como é o
processo de composição da banda? O instrumental é feito em função das letras ou
são duas coisas independentes? Como escolhem qual tipo de letra será usada em
determinada composição?
Cremo Pepe: Bom, de todas as músicas que temos, só uma foi feita
antes da letra, que é "Reféns do Próprio Sestino", que o Arthur (ex-baixista),
que hoje está na Dinamarca, fez. Todas as outras são em cima da letra: a gente
chega, eu mostro todas as letras que eu escrevi e estão disponíveis, e aí, a
gente entra em consenso e cria o som em cima da letra.
A parte musical fica por conta de
Diego Ribeiro, ele é o mestre do negócio. Eu não sei tocar nada, mas entendo um
pouco das notas. Nasci em uma família de músicos e não toco porra nenhuma, cara
(risos). Eu explico mais ou menos a ideia e o resto é com os três. Com o tempo,
a gente vai moldado. Para quem pensa que Grindcore é facil de ser feito, anti-música
e etc, está muito enganado, é um som muito complexo de fazer, tem que ter
pegada.
Som Extremo: Vocês acabaram de lançar o álbum “Midgard Grind”. O que
pode falar sobre ele?
Cremo Pepe: É algo muito importante para nós, trabalhamos muito
para fazer algo diferente e acho que conseguimos. Faltou grana para lançar o
material físico, mas parte do sonho foi realizado, lançar algo que nunca foi
feito, Grindcore aliado ao Viking Metal, em uma terra que já tem o costume de
aparecer no cenário underground: Minas Gerais é rica nisso.
O nome “Midgard Grind” é em
alusão à cultura viking: “Midgard” é reino dos humanos, o que, para as pessoas
que não conhecem, seria a Terra, então, traduzindo, o nome seria "Terra do
Grind".
Um fato que inclusive gostaria de
comentar é sobre meu vocal. Algumas críticas surgiram em relação à voz, e
queria deixar claro que o vocal era pra sair daquela forma mesmo, nem muito
gutural e nem muito normal. As minhas influências na banda têm os picos de
Extreme Noise Terror, Amon Amarth e Nasum. Sendo assim, seria uma mescla das três
vozes, meio rasgado e meio gutural,
dentro do meio termo. É um vocal só meio, sem tentativas de cópias. Muita gente
estranhou, pois está acostumada com grunhidos mais pesados (que também faço às
vezes nos shows), mas prefiro a voz no meio da tabela.
Som Extremo: O disco saiu em formato virtual apenas, como você
mencionou. Existem planos para lançá-lo em formato físico?
Cremo Pepe: Estamos correndo atrás de conseguir lançar esse
material de forma física, mas falta dinheiro e temos muitos outros projetos em
andamento, como um ‘6 way split’ na América do Sul, um ‘split’ ao vivo e uma
turnê. Não sei qual conseguiremos primeiro, então é ir devagar. O underground é
muito no “faça você mesmo”, todos têm suas responsabilidades e a banda é
segundo plano. Trabalho, faculdade, a vida segue, a gente tem que manter a pegada, de leve,
tudo se resolve. Se você não faz, ninguém fará por você!
Som Extremo: Como foram as participações de Juninho (Ratos de Porão) e
Fábio Prandini (Paura), além de outros dois amigos de vocês?
Cremo Pepe: O Fábio ia cantar a música “Fé Comercial”, mas teve
problemas com o estúdio la em São Paulo e não conseguiu gravar a pista na
última hora. Para não ficar de fora, ele gravou aquela introdução mesmo, fato
que também aconteceu com o Dio (Gritando HC), que ia gravar a guitarra de uma
pista. Outro que ficou de fora foi o Fernando Candado (Otra Salida). A porra da
música não abriu no programa que ele usa no estúdio dele, em Buenos Aires. Emfim
as participações não saíram como o planejado (risos). Já quanto ao Juninho,
desde o começo, meu convite tinha sido só para introdução. Vale ressaltar a
gravação em alemão, que foi feita por Camaleont, que é um punk alemão. Mandei o
texto em inglês e ele traduziu para o alemão e gravou. No final de “Punk Girl”
foi Pilar, uma amiga de longa data, quase uma professora de espanhol, que me
ajudou bastante a polir algumas "palabras". Hoje, eu que ensino
português para ela (risos).
Som Extremo: Agora que estão com o novo material, quais serão os
próximos passos da La Tormenta?
Cremo Pepe: No dia 28 de outubro, tocaremos em São Caetano do Sul,
com os sempre ‘brothers’ da Oligarquia Death Metal, banda com a qual vem muitas
novidades lado a lado no próximo semestre.
Som Extremo: Agradeço a entrevista, Cremo Pepe. Fique à vontade para
uma última mensagem.
Cremo Pepe: Peço para que o underground seja realmente unido. Vejo
que existe muita gente querendo engolir um ao outro, muita gente que vive
reclamando da sua "cena", mas quando dá entrevista, diz que está tudo
às mil maravilhas. Vamos parar de ser falsos com nós mesmos e tentar mostrar
algo que não está acontecendo de verdade. Acredito que existem muitas pessoas,
muitas mesmo, bem intencionadas no underground, mas existe um número igual de
sanguessugas tentando destruir o meio, pessoas que dizem ter uma postura e
fazem algo totalmente fora da própria conduta que se rotulam. Não importa se é
Punk, se é Hardcore ou se é Metal: respeitem-se e unam-se, independentemente de
crenças, se é cristão, se é ateu, se é pagão, e por aí vai.
Agradeço todos que sempre me
apoiaram, a banda e todos os meus projetos, minha família, Odin, Thor Njord e todos os outros deuses que o mundo
possa ter. A La Tormenta não quer fãs, quer amigos e guerreiros que estejam
lado a lado sempre em prol do underground. Um verdadeiro rei, antes de tudo, é
um guerreiro, e sempre colocará seu escudo em proteção de seu companheiro do
lado, sua espada em prol de sua honra, e será o primeiro da fila a começar a
luta.
Honra, amizade e lealdade. Nos
dias de hoje, precisa-se muito disso. Obrigado a vocês pela oportunidade de nos
expressar.
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