Ao analisarmos a história do Rock Pesado Gaúcho como um todo, desde seu surgimento, veremos que existem algumas similaridades entre aquela época com o que vivemos agora, seja nas dificuldades ou até mesmo na falta de união. Ao mesmo tempo, a força de vontade esteve presente em cada momento desta história, fazendo com que os músicos se tornem bravos guerreiros e desbravadores. Nossa intenção com este livro não é criar polêmica, mas sim trazer para os dias atuais tudo o que de legal e fascinante foi vivido por quem vivenciou a cena de Rock pesado no Rio Grande do Sul desde os primórdios, onde fazer e curtir este estilo de Rock era sinônimo de marginalidade, embora isso ainda faça parte da sociedade hoje em dia.
Então, ao esmiuçar tudo o que envolve o Rock/Metal no Rio Grande do Sul, descobriu-se fatos interessantes, que, para a geração mais nova talvez soe até mesmo engraçado, como, por exemplo, ouvir rádio escondido dos pais, esperar meses até ouvir algum disco, ter que se sacrificar para ir a algum show grande (algo raro até os anos 90). Enfim, com a facilidade da Internet tudo isso parece ter se perdido, de certa forma até banalizado. Um dos exemplos presentes no livro é da galera que frequentava a loja Megaforce, a Meca do Heavy Metal porto-alegrense nos anos 80, que chamava a atenção do pessoal do interior, que viajava quilômetros e mais quilômetros só para poder comprar um disco, uma fita K7, ver um vídeo, trocar reportagens e fotos de revistas. Eram tempos de descobertas, onde a troca de informações e materiais era a única forma de se conhecer alguma banda nova, de saber como eram seus ídolos, de vivenciar algo novo e estimulante.
Nos anos 60 e 70, o Rock gaúcho ainda estava engatinhando, poucas bandas existiam, e os espaços para tocar eram poucos, ficando restritas a shows em teatros, auditórios, colégios e clubes (estes últimos onde rolavam as badaladas reuniões dançantes). Foi a partir do começo dos anos 80 que este cenário começou a mudar, e através de bandas realmente pesadas, como Leviaethan, Astaroth, Virgem Atômica, Câmbio Negro, Valhala, Spartacus e Panic, entre muitas outras. Desta forma, mesmo com muita dificuldade, a vertente mais pesada do Rock, o Heavy Metal, foi inserido de vez no coração dos rockeiros gaúchos. Ao mesmo tempo, inspirados por estes, novas bandas foram surgindo, criando então uma cena mais forte, expandida também para o interior, que sempre possuiu um público fiel e grande. Não foram raros os shows em que o Astaroth tocou para locais lotados, abarrotados de jovens sedentos por seu Heavy Metal de qualidade.
Um dos grandes fatores para o Rock pesado crescer - não apenas no Rio Grande do Sul - foram os shows do Kiss e do Van Halen no Brasil em 1983, sendo o último se apresentando também em Porto Alegre. O surgimento do festival Rock in Rio, que influenciou toda uma geração, suscitou grande interesse neste estilo novo e selvagem. Iron Maiden, Scorpions, Queen, AC/DC e Ozzy Osbourne deram algo mais a aqueles jovens em 1985, tornando possível a entrada do Brasil na rota dos grandes shows e marcando de forma brutal uma nova era para o som pesado brasileiro.
Pouco a pouco as bandas iriam conseguindo gravar seus discos, sofrendo um bocado na mão de produtores inexperientes e estúdios inferiores aos encontrados no eixo Rio-São Paulo, diga-se de passagem. Porém a garra se mostrava mais forte e foram forjados grandes clássicos, não só para a cena local, mas para o Brasil inteiro ver que esta galera não estava brincando. O Astaroth, com “Na Luz da Conquista” e “Tempos Vencidos”, do Virgem Atômica, ambos lançados em 1986, tornam-se os primeiros discos de Heavy Metal a serem lançados no Rio Grande do Sul, sendo inteiramente cantados em nossa língua natal, a exemplo de bandas oriundas de Rio de Janeiro e São Paulo, como Dorsal Atlântica, Korzus e Harppia. As coletâneas tiveram sua devida importância para o desenvolvimento de diversas bandas, como o próprio Astaroth, que participou do antológico “Rock Garagem”, de 1984, com o segundo volume lançado em 1985, e com o “Porto Alegre Rock”, do ano seguinte. Destas coletâneas ainda foram apresentados Leviaethan, Frutos da Crise, Os Replicantes, Valhalla, Sodoma e Spartacus, dentre outros. No campo do Metal Extremo, a Serra Gaúcha, Santa Maria e Pelotas foram locais de grande importância, revelando nomes seminais como Apostasia, Nuctemeron e Dissector, abrindo caminho para a geração posterior, onde se inclui o Krisiun.
O nosso objetivo, com esta edição, é demonstrar como o som pesado surgiu aqui no Rio Grande do Sul e a contribuição que trouxe para a cultura deste estado. Contamos com a essencial contribuição de quem vivenciou de fato toda esta história, através de depoimentos e relatos. Humildemente pretendemos encher de orgulho a velha guarda de fãs, de tudo o que fizeram, e entusiasmar os mais novos, para que ambos continuem fortes e inabaláveis. Pretendemos, também, mostrar à nova geração que eles serão a continuidade deste passado e presente glorioso, pois entendemos que para todos estes fãs o som pesado TÁ NO SANGUE!
Sobre os autores:
Luis Augusto Aguiar: Nascido em Porto Alegre, é administrador, Rocker desde sempre, começou a curtir som pesado em 1983.
Maicon Luís Custódio Leite: Natural de Parobé, cidade situada no Vale do Paranhana, foi iniciado neste mundo paralelo por volta de 1989, através das revistas BIZZ de seu primo, econsequentemente pegando emprestadas fitas K7 e LPs de amigos, além de trocar gravações pelo correio. Aos poucos foi descobrindo sua paixão pela escrita, criando seu próprio fanzine xerocado, chamado Monsters of Rock e hoje participa de conceituados meios de comunicação dentro do Heavy Metal, como Roadie Crew, Hell Divine, Metal Warriors e Whiplash, além de trabalhar como assessor de imprensa de diversas bandas e produtoras com a Wargods Press.
Douglas Torraca:
Jornalista, residente em Cachoeirinha, Região Metropolitana de Porto Alegre, formou-se pelas Faculdades Anhanguera, em 2001. Já trabalhou na Rádio CBN, Notícias do Dia (SC), O Popular (GO), e Editora Grande Porto Alegre (RS), além de escrever em blogs sobre Heavy Metal e futebol. É ex-goleiro, músico frustrado e viciado em cinema. O universo do Rock Pesado entrou na sua órbita, aos 14 anos, no início da década de 90, graças ao professor de guitarra de um primo que apresentou discos de Ozzy Osbourne, Metallica, Faith No More, Rata Blanca e Alta Tensão.
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