sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Harmony Fault - Rotting Flesh Good Meal

Harmony Fault - Rotting Flesh Good Meal
Rotten Foetus/Cauterized Productions/Violent Records – 2011 – Brasil

Era uma calorosa tarde de dezembro. Repousava em meus aposentos quando, após o toque da campainha, levantei-me, como um zumbi, para atender a porta. O correio me trazia essa deliciosa maldição. Portanto, o fato de eu parecer um morto-vivo era um sinal de que viria esse material. Só pode ser essa a explicação.
E ao invés de retornar ao sono dos (in)justos, um impulso inexplicável me fez colocar o disco no aparelho de som rapidamente. Era um dos melhores retornos ao goregrind dos primórdios que já tive o privilégio de escutar, e com um detalhe: é uma banda brasileira!!!! Orgulho é pouco!
O trio soltou uma pérola decomposta por dezenove músicas em quase meia hora de horror e nojeiras. As canções são simples, mas extremamente cativantes. Tão cativantes, que é praticamente impossível ouvir esse disco no volume baixo, ainda mais com riffs tão marcantes, como é o caso da faixa-título, ou de “Lust Garden”. Além dessas, outras bastante empolgantes são a própria introdução – “Paura” - e “Screaming Headshot”, com uma levada inicial muito boa! E todas regadas àqueles irresistíveis vocais cheios de efeitos que caracterizam as raízes do estilo.
E sobram homenagens para todos os lados em “Rotting Flesh Good Meal”. Para mestres do cinema underground, como Dario Argento, nossos Petter Baiestorf e Zé do Caixão, passando pelo genial Edgar Allan Poe e também pela atriz de filmes adultos Jenna Jameson. Estes são só alguns dos nomes. E dizem que esses tipos musicais não agregam nada... tem coisa mais cultural do que literatura e cinema???
Aliás, elementos da cultura local do grupo (são gaúchos) também estão presentes nesse registro. É o caso de “Tirível” ou “Rua do Arvoredo (O Açougue Humano Canibal)”, que virou livro (que eu li e recomendo). Só por curiosidade: a história é sobre um açougueiro que, no século XIX, matava pessoas e após desmembrá-las, fazia linguiça com sua carne, para serem posteriormente deglutidas pelos humanos. Ao que consta, é um episódio real.
Curiosamente, o encarte conta apenas com comentários sobre cada faixa, ao invés das letras em si. Mas não tem problema, os textos são divertidíssimos! E a arte do material também é bem feitinha, bem típica dos temas gore. Dêem uma checada na foto da parte transparente da caixinha, onde se encaixa o disco.
A banda havia participado do problemático 4 way split “Sociopathological Society” (ler resenha aqui), cuja produção havia deixado a desejar. Entretanto, nesse full length de estréia, nem parece o mesmo grupo! Como uma boa gravação faz diferença! E o cuidado em deixar tudo bem sujo, pesado e equilibrado também chama muito a atenção. O baixo, por exemplo, apresenta uma distorção extraordinária!
Esse é o primeirão, o debut, é verdade, mas a qualidade do material é tanta que é possível afirmar sem medo: a Harmony Fault já é uma das melhores representantes do goregrind clássico nacional. Se alguém duvida, trata de arrumar uma cópia do CD urgente para confirmar o que aqui foi dito. Fãs de Impetigo e afins, isso é para vocês!

NOTA 9,5

Um comentário:

  1. Buenas! Sou gaúcho assim como os caras da banda, e posso afirmar que o caso da Rua do Arvoredo é pra ser real mesmo. se não me engano, aconteceu no início do século passado, em Porto Alegre. Dizem os textos que a mulher do açougueiro, muito bonita, atraía clientes para os fundos do lugar onde o marido matava os desavisados.. rsrs detalhe tenebroso: segundo os relatos, a linguiça fabricada com carne humana era muito apreciada.. hahaha pior que é verdade

    ResponderExcluir