Os últimos anos têm sido um ano de ouro para o thrash metal nacional. Inúmeras foram as banda do estilo que soltaram excelentes álbuns, sendo que, entre elas umas acabam se sobressaindo às outras. A Deathraiser é um desses exemplos. Os mineiros soltaram o ultra-agressivo “Violent Agression” e estão na eterna luta pela divulgação da ótima cena underground que temos no país. O quarteto é formado por Thiago (guitarra/vocal), William (bateria), Ramon (guitarra) e Junior (baixo). Os dois primeiros concederam uma entrevista na qual falam, além do álbum, sobre suas origens, a cena mineira, influências, planos futuros e outros assuntos.
Som Extremo: Conte um pouco da história da Deathraiser. Como foi a caminhada até o lançamento por um selo espanhol de “Violent Aggression”?
William: Fala Christiano, prazer em falar com você! Então, a Deathraiser surgiu na verdade com o nome de Mercilless, em meados de 2006, na cidade de Leopoldina (MG). Éramos doidos para montar uma banda de thrash, então começamos os ensaios e aí acabou rolando legal...
Thiago: Era uma parada meio ‘pô, vamos fazer um som pra gente pirar!!’ e recordo que até mesmo antes da Merciless, vieram um monte de nomes meio estranhos, como Cerebral Waste (risos). Firmamos o nome Merciless e ainda tentamos disfarçá-lo com um “l” a mais em seguida (mais risos). Foi quando sentimos a necessidade de registrar esse momento na demo “Possessed by Thrash”, que para nós, foi uma coisa totalmente empolgante na época. Foi daí que começamos a encarar a coisa com seriedade.
Som Extremo: A banda faz um dos mais violentos thrash metal que já ouvi. O objetivo foi sempre soar assim, ou essa brutalidade aconteceu naturalmente?
William: Essa “nova” fase da banda surgiu naturalmente, depois da demo “Possessed by Thrash”. Na época, tocávamos mais para o lado do Thrash/Speed, sem ser muito agressivo, mas quando começamos a compor para o novo álbum, acabou que naturalmente as músicas tiveram uma pegada mais rápida e com um direcionamento bem mais agressivo do que na demo, e o pessoal curtiu bastante essa “nova” fase.
Thiago: É, foi uma coisa legal na época! Como falei, a gente estava muito empolgado e queria tocar na velocidade equivalente a essa empolgação (risos).
Som Extremo: Como tem sido a repercussão do trabalho? Às quantas anda sua divulgação?
William: A repercussão de “Violent Aggression” tem sido muito boa até então. O CD está sendo bem divulgado na Europa e na Ásia, mais precisamente no Japão, onde alguns estoques já estão baixos. Entretanto, aqui no Brasil ainda vemos essa deficiência na divulgação, mas estamos correndo atrás de boas parcerias e acredito que ano que vem teremos boas notícias. Quem sabe, um lançamento nacional? Seria ótimo...
Som Extremo: Existem planos para algum clipe, ou turnês?
William: Estamos com umas ideias na cabeça para o nosso primeiro clipe. Já temos a música escolhida e em breve será divulgada... Esperamos poder fazer esse clipe até meados do ano que vem e espero que seja foda! E estamos planejando uma possível tour sul-americana em meados de 2012. Ainda não está 100% confirmada, mas estamos muito animados com essa ideia. Será ótimo poder tocar em lugares que ainda não fomos e mostrar nosso som ao vivo para os nossos “vizinhos” (risos).
Thiago: Na verdade, tudo isso aí já era uma vontade muito antiga. Tocar foi e sempre será a coisa que mais nos motiva na vida. Mas realmente, agora, com o “Violent Aggression”, as possibilidades para que isso aconteça são melhores. Pode crer que da nossa parte, vamos nos empenhar muito nisso para que não fique só nos planos.
Som Extremo: A influência mais evidente do trabalho de vocês parece ser a Kreator antiga. Além dos alemães, existem outros grupos mais “suaves” que também fazem parte de sua inspiração?
William: É, a Kreator foi uma banda que nos influenciou muito desde o início, mas acredito que isso vem mais da parte agressiva de cantar do Mille (Petrozza, vocal da Kreator). Curtimos muito esse tipo de vocal e acho que combina perfeitamente com nosso som. É claro temos influências de várias bandas, não só pelo som, mas também pela temática, que é uma das coisas importantes que vemos no thrash. Queremos que isso faça parte da Deathraiser. Acredito que as influências de bandas como Sepultura (old), Vio-lence, Dark Angel e Demolition Hammer estejam mais presentes no atual momento da banda.
Thiago: Sempre rola essa associação, até por parte do vocal, que eu assumo, foi em quem busquei a referência maior (risos). Mas pô, é inegável também as influências até do nosso próprio cenário mineiro, dos áureos anos 80. É essa pegada aí que agente queria ao menos chegar perto... Mas agente curte música pra caralho e tenta absorver um pouco daquilo que achamos que cabe no nosso som. Vai desde o citado Vio-lence, até um Devastation, por exemplo (risos).
Som Extremo: Falando na inspiração em bandas antigas thrash, vocês não temem que a Deathraiser soe retrógrada hoje?
William: Pergunta legal essa, mas veja bem, hoje em dia, muito se fala nesse lance das bandas soarem anos 80/90 e por aí vai. No entanto, acredito que as pessoas esquecem e não enxergam a paixão que as bandas de hoje em dia têm em fazer esse som “retrógrado”. Então acho que pouco importa para a gente “soar” ou querer “imitar” uma época maravilhosa que já passou. Não ligamos para rótulos. Apenas fazemos o nosso som e não temos medo de disso. Somos apenas uma banda de thrash metal fazendo o que gosta e para quem gosta (risos).
Thiago: Acho até que essa coisa de retrógrado é meio que uma necessidade que as pessoas têm na hora de se orientar quanto à estética (ou rótulo, diga-se) do som. É como um mecanismo de identificação. Mas se é para dizer que tentamos reproduzir, tanto “sonoricamente”, quanto passionalmente, aquele lance de estar atuando em uma cena local/regional, produzindo e intercambiando cultura e fazendo parte de uma rede, podemos dizer sim, que agente tenta chegar perto de como isso era nos anos 80, quando a coisa era passional demais. Acho que a inserção de um pensamento megalomaníaco dentro do rock estragou essa magia entre as pessoas, saca?
Som Extremo: A cena mineira anda produtiva como antigamente?
William: Acredito que hoje em dia, não mais. Temos muitas bandas boas, mas a verdade é que a cena mineira anda decadente e menos produtiva. As coisas não andam; são poucos shows, poucos produtores interessados em fazer festivais e chamar as próprias bandas mineiras. Está tudo praticamente parado, exceto no interior, onde ainda existe a ideia de fazer os próprios festivais, como é o nosso caso aqui. Se a gente não tem, pegamos e realizamos, pois só assim fazemos alguma coisa para mudar. Acredito que falta mais iniciativa própria dos produtores ou de fãs de metal em geral em fazer os próprios festivais. Sei que a precariedade também conta como falta de apoio, lugar, grana, mas unir sua cena local e colocar isso em prática já é algo que deve ser feito. É claro, tem que ser feito por paixão e não pelo dinheiro, senão a coisa não anda.
Thiago: Claro, também penso assim, William. Convenhamos: a grana pode tanto facilitar quanto prejudicar a organização de um evento (risos). Mas falando na cena mineira, vemos bandas despontando (caso da Hammurabi e Facionora), mas são coisas que não reproduzem a condição da capital mineira, que anda precisando reviver esse espírito que o interior esta correndo atrás. A gente já é um movimento de contracultura, não tem como não ser DIY.
Som Extremo: Hoje o Brasil vive uma fase excelente no thrash metal. Concordam? A que vocês acham que se deve esse resgate?
William: Uma fase 100% excelente, acredito que não esteja. Creio em uma ascensão da cena, com as coisas tendendo a melhorar, mas é preciso quebrar várias barreiras ainda. Temos grandes bandas surgindo ou que já estão na cena, mas faltam mais apoio e oportunidades para as bandas mostrarem seu material. Parte desse resgate vem da insatisfação de algumas pessoas com essas novas tendências, mas isso, na realidade, é algo que só o tempo dirá.
Thiago: Acho que essa coisa pode ser meio espontânea até hoje em dia, saca? Porque do fim dos anos 90 para cá, a gente viu muita coisa surgir, e muitas bestas mitológicas em forma de discos e super heróis de plástico tocando, ao invés de banda, saca? Penso que essa fase excelente se deve também ao fato da busca das pessoas e das bandas pelo verdadeiro espírito da coisa, essa paixão que muito reproduz a sonoridade da cena dos 80´s. O thrash é muito parte disso. Assim, tem muita banda foda velha de guerra e outras mais novas nos dando cada dia mais orgulho para o Brasil em termos de thrash metal.
Som Extremo: Com isso, vocês acham que o cenário já está saturado, ou é apenas o início?
William: Saturado, acredito que não, mas hoje com essa evolução tão rápida das coisas pode acabar atrapalhando. Muitas pessoas deixam de ir a um show ou comprar um CD (digo em questão de apoiar, não de grana), para depois sugar tudo na internet e ainda querer criticar algo que está sendo feito. Acredito que, se a coisa está ruim, pegue e faça, apóie, construa, pois só assim veremos uma luz no fim do túnel. Muita gente acha isso conversa fiada, mas a coisa é simples: se estamos nesse meio, é para tentarmos fazer alguma coisa, e não criar divergências numa parada que gostamos e fazemos parte. Entretanto, deve-se lembrar que isso é uma opinião minha (risos).
Thiago: Eu acho que nunca é demais a aparição de novas bandas, novos espaços e novas trocas de cultura. O que não acho legal é o lance de querer soar igual a alguém em específico. Mas em termos de produção e atuação de uma cena local, é como o William disse: não é só o som, e sim toda uma atitude ao redor da coisa...
Som Extremo: O blog Som Extremo agradece a entrevista. Agora o espaço é de vocês!
William: Quero agradecer primeiramente a você, Christiano, pelo apoio dado à Deathraiser. Para nós, é um prazer trocar essa ideia com você. Quero agradecer também a todos que curtem a banda e a apóiam, de uma maneira ou de outra. Esperamos nos encontrar nos rocks da vida por aí. Grande abraço a todos. Keeping The Underground Spirit!
Thiago: Poxa, obrigado mesmo, Christiano!! Valeu pela força que tem nos dado, bicho!! E espero em breve poder conhecê-lo pessoalmente (nota do redator: a vontade é recíproca) num rock desses, pra gente falar de som e se embriagar um pouco (muitos risos). A todos os que perderam seu tempo lendo isso e prestigiando esse grande do Christiano: “Vocês REALMENTE são foda!!” Muito obrigado e não esqueçam: se você quer uma cena, lute por uma cena!!
Contatos:
Tel: (032)9995-2789
Muito muitoo foda esse album
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