sábado, 6 de agosto de 2011

Entrevista - Hatefulmurder

Entrevista - Hatefulmurder

Essa banda aqui tem feito muito barulho nas últimas semanas. Os cariocas da Hatefullmurder lançaram recentemente o bem cotado EP “The Wartrail” (ler resenha aqui) e caminham a passos largos para se tornarem uma das grandes bandas nacionais de metal extremo. Nesse clima positivo, o blog Som Extremo entrevistou o vocalista Felipe Lameira, um cara bastante consciente e informado que falou sobre a história da banda, as influências na hora de escrever letras, a cena underground do Rio de Janeiro e outros assuntos interessantes.

Junto a Lameira, estão Renan Ribeiro (vocal/guitarra), Thomás Martinoia (bateria) e Ernani Henrique, compondo uma das maiores revelações do nosso cenário.

Som Extremo: Felipe, pra todo mundo conhecer, dê um breve histórico da Hatefulmurder por favor.
Felipe Lameira: A banda surgiu em meados de 2008, quando Renan Ribeiro (guitarra), Ernani Henrique (baixo) e nosso antigo baterista saíram de uma banda em que tocavam para formar seu próprio projeto. Nessa época eu era apenas o produtor e acabei acompanhando-os nessa empreitada. Com a chance de iniciar realmente do zero, tivemos a ideia de fazer algo entre o Thrash e o Death Metal, mas com uma identidade própria. Já com a banda "formada" e ensaiando algumas composições, faltava ainda um vocalista. Depois de muitos testes, nenhum deu certo, e eles tiveram a brilhante ideia de me convidar para cantar. A partir daí começamos o processo de composição com a intenção de gravar uma demo e fazer alguns shows.
A banda fez várias apresentações e em meados de 2009, lançamos nosso primeiro material gravado: a demo single "Extreme Level of Hate", com o qual conquistamos um reconhecimento no cenário underground. Já em junho de 2010, nós lançamos a demo "When the Slaughtering Begins", dando continuidade ao nosso trabalho e conseguindo novamente agradar tanto a crítica especializada quanto o público. 
Em 2011 nós nos inscrevemos no maior concurso de bandas de metal realizado no mundo: o “Wacken Open Air (W:O:A) Metal Battle”. Fomos selecionados e vencemos a etapa estadual após disputar a competição com outras quatro bandas de alto nível. Fomos para a final nacional em Varginha-MG, no consagrado festival Roça'n Roll. Ficamos entre as bandas de destaque do evento, segundo alguns críticos.    
Bom, atualmente estamos promovendo o lançamento do nosso mais recente trabalho, o EP "The Wartrail". Estamos muito felizes com o resultado dele e com a receptividade de todos. Tem se mostrado um lançamento forte e que deixa um gosto de "quero mais" para os que escutam. 

Som Extremo: O baixo tem um destaque especial na banda. Por que essa opção?
Lameira: Esse destaque acontece por dois grandes motivos: pelo próprio desejo da banda em deixar esse resultado final no som e, principalmente, pela pegada do nosso baixista. Sempre gostei mais das bandas de thrash e death onde o baixo tem seu destaque e peso reconhecidos. Ouvindo bandas como Exodus, Cannibal Corpse, Death e Overkill, isso fica evidente. Quem é realmente fã dessas bandas sabe do que eu estou falando.
Ernani é um excelente baixista, pesadamente influenciado por Steve Harris, e eu acho que seria uma injúria não dar a ele o espaço devido na banda. No final de tudo, acho uma mistura interessante a do som mais "extremo" com um baixo mais "tradicional" e presente.     
 
Som Extremo: A sonoridade bastante metalizada do EP “The Wartrail” foi pensada dessa forma, ou aconteceu naturalmente?
Lameira: Bom, boa parte dessa sonoridade "metalizada" é responsabilidade do timbre do baixo mesmo. O "estalar" metálico das cordas do fender precision é quase que inevitável. No resto, escolhemos timbres que nos agradassem e parecessem mais "orgânicos" e diretos. Queríamos passar algo direto com o máximo de recursos que tínhamos em mãos naquele momento, mas que ao mesmo tempo fosse possível escutar todos os instrumentos com clareza. Acho que chegamos bem perto desse resultado.   

Som Extremo: Além do Vader, Pantera e Cannibal Corpse, quais as outras influências da Hatefulmurder?
Lameira: Não estou muito certo sobre o Pantera, mas Vader e Cannibal com certeza. As nossas influências são muito variadas e numerosas. Podemos citar desde Dew-Scented e Malevolent Creation a Iron Maiden e Exodus. Todos os membros trazem referências fortes que, no final do arranjo, acabam se refletindo de alguma forma. O que percebi é que o Hatefulmurder cada vez mais possui uma identidade própria. Hoje em dia, dependendo do tipo de riff que o Renan executa na guitarra durante um ensaio, já consigo dizer: "Isso é bem a nossa cara... bem Hatefulmurder".       

Som Extremo: A Hatefulmurder apresenta um grande equilíbrio entre o thrash e o death, não pendendo mais para um ou para outro estilo. Isso é proposital?
Lameira: Na verdade sim. Nós nos preocupamos - eu principalmente - em criar composições diversificadas que possuam o melhor dos dois gêneros. Mesmo que uma música tenda mais ligeiramente para o Thrash ou para o Death, sempre nos perguntamos se ela não poderia ser mais "rápida" ou mais "pesada" em um determinado ponto. Procuramos pensar qual será a "energia" que aquela composição deverá passar. Mas uma coisa sempre determina e orienta as nossas composições: agressividade. Se ao final de uma música nossa não sentirmos essa força, é porque ela ainda não está pronta.       




Som Extremo: Vocês já estão trabalhando em novo material para um full-length? O que poderia adiantar ao Som Extremo?
Lameira: Atualmente estamos mais focados da divulgação do nosso EP, o que tem sido muito recompensador devido ao grande retorno positivo que temos recebido com ele. Mas seria uma inverdade dizer que não estamos pensando no nosso debut full-length. Já começamos a juntar alguns riffs e tocá-los em estúdio, o que até agora tem sido muito divertido, pois tem  surgido coisas muito boas. A entrada do Thomás só contribuiu nesse sentido, por que ele trouxe novas referências e ideias que ainda não havíamos trabalhado. Uma coisa todos podem ter certeza: não economizaremos esforços para que o novo álbum seja o mais devastador possível.

Som Extremo: Fatos como a tragédia de Realengo, ou as guerras entre polícia e traficantes nos morros do Rio influenciam as letras da banda? De que forma?
Lameira: Com certeza. A realidade que nos cerca é caótica não só no Rio de janeiro e no Brasil, mas no mundo todo. Claro que a coisa aqui "ferve" literalmente. O subúrbio da cidade, onde a maioria dos membros sempre viveu, é um lugar de sobrevivência onde nem tudo o que se enxerga é agradável aos olhos. Vemos todos os dias corrupção, desrespeito, violência, revolta e morte. São as piores faces do ser humano batendo à sua porta, somente te esperando colocar o pé na rua. É uma situação que, mesmo que não percebamos diretamente, se reflete no nosso estilo de música de fato.      

Som Extremo: E falando em Rio, como é a cena extrema por aí?
Lameira: Eu costumo dizer para o meus amigos que atualmente vivemos a "era de ouro do extremo" aqui do Rio. Nunca existiram tantas e tão boas bandas de extremo aqui como agora. Todas estão se preparando para lançar novos trabalhos e cada dia existem mais shows sendo realizados. Ágona, Dark Tower, Lacerated and Carbonized, Unearthly, Hicsos, Vociferatus, Impacto Profano e Engines of Torture são alguns dos nomes. Para mim, que vejo isso acontecer, é mais um motivo de orgulho e de vontade de fazer sempre o melhor. É por isso que você nunca verá o Hatefulmurder fazer um show sem vontade. Em cima do palco, somos como soldados em um operação de guerra: estamos sempre prontos para destruir tudo!    

Som Extremo: O underground brasileiro tem apresentado bandas fenomenais nos últimos anos. Você teme por uma saturação dessa cena no país?
Lameira: Saturação eu não sei. A qualidade das bandas do underground no Brasil é evidente. Arrisco dizer que, nesse sentido, temos uma das cenas de metal mais fortes do mundo. O problema, na minha opinião, é que muito ainda deve ser feito para a situação melhore nas questões de estrutura e investimento, tanto para bandas como para público. Acho que enquanto o público aumentar e apoiar, haverá espaço para todos. 

Som Extremo: O Som Extremo agradece a entrevista. Gostaria de proferir mais algumas palavras?
Lameira: Quem agradece sou eu pela oportunidade de falar um pouco sobre o nosso trabalho. Gostaria de agradecer também a todos pelo apoio e incentivo que temos recebido após o lançamento do EP. Tem sido muito gratificante perceber que nossas expectativas quanto ao nosso trabalho se superam cada vez mais.
Um recado importante: não deixem de ir a shows e de apoiar as bandas underground. Você pode se surpreender com a qualidade dos trabalhos e acabar se tornando fã de uma grande banda! Além disso, terá a chance de conhecer mais pessoas que gostam das mesmas coisas que você! O que está esperando? Sai desse computador e seja um headbanger de verdade... vá viver a vida!
Obrigado, amigos! Abraços!

4 comentários: