O fim do ano trouxe muitas boas
surpresas. Entre elas, o ‘debut’ da Rancid Flesh – “Pathological Zombie Carnage”
-, um primor do Goregrind/Splater/Death Metal, que tem gerado muitos
comentários por parte dos fãs de música extrema. De fato, o disco faz juz ao
burburinho, pelo capricho e pela qualidade do material. O blog Som Extremo
entrevistou o simpático vocalista Laerte Guedes para saber mais sobre o
lançamento, a carreira da banda (uma dupla, completada por Adriano Sabino, que
toca todos os instrumentos), letras, apresentações ao vivo e outros assuntos. Que
a Carnificina patológica zumbi tenha início!
Som Extremo: Para uma banda que nasceu em 2009, vocês já têm um número
considerável de registros. Poderia contar um pouco sobre a história da Rancid
Flesh?
Laerte Guedes: Primeiramente, obrigado pelo espaço cedido ao Rancid
Flesh. Eu mantenho contato com o Adriano desde 2005 e ele sempre foi muito
ativo tocando em várias bandas, e também em alguns projetos pessoais. Em 2006,
quando fui tocar com o Scatologic Madness Possession (R.I.P.) em Natal, cidade
em que o Adriano reside, a gente teve uma primeira conversa sobre montar um projeto
mais voltado para o velho Splatter Goregrind, com ele fazendo todos os
instrumentos e eu nos vocais. Porém, somente em 2009 é que a coisa realmente
foi pra frente. Com a escolha do nome e a primeira gravação, conseguimos um
selo bem rápido para lançar nosso primeiro material, e estamos aí até hoje,
agora com o nosso primeiro CD completo.
Som Extremo: Como mencionou, vocês acabam de lançar o excelente ‘debut’
“Pathological Zombie Carnage”. Como o descreveria?
Laerte: Com toda certeza, esse é o nosso material mais caprichado
em todos os aspectos, começando pelas composições, onde conseguimos realmente
expor e mesclar todas as nossas influências, que são as velhas bandas de Goregrind
e Death/Splatter, passando pela gravação em um estúdio profissional, onde
fizemos também a mixagem e masterização, que anteriormente ficava a cargo do
próprio Adriano. Tivemos uma maior preocupação também com toda a parte estética
do disco, com uma capa legal, criada pelo renomado desenhista norte-americano
Mattew “Putrid” Carr, que já fez desenhos para muitas bandas por todo o mundo,
como Autopsy, Offal, Zombie Cookbook, Acid Witch, Impetigo etc. E por fim, um
encarte bem completo.
Som Extremo: As faixas foram gravadas de maio a novembro de 2011, mas o
disco só saiu um ano depois. Por que essa demora no lançamento?
Laerte: Realmente, demorou quase um ano após a finalização das
gravações para que o lançamento ocorresse. Inicialmente, o CD iria ser lançado
somente pelo selo Rotten Foetus Records, do nosso amigo Diomar, e tinha a
previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2012, porém, o Diomar teve
problemas particulares que impediu o lançamento desse material. Após essa má
notícia, a gente começou uma “correria” para conseguir novos selos que tivessem
interesse em lançar o nosso CD. Conseguimos o apoio dos selos Carnificina Records, do Rio de Janeiro, Cianeto Discos, do Rio Grande do Sul, Terceiro
Mundo Chaos Distro, do Paraná, e Rapture Records, de Santa Catarina. Finalmente,
no início de outubro de 2012, estávamos com o nosso aguardado e atrasado álbum
na mão!
Som Extremo: Em relação aos selos, na sua opinião, isso facilita a
divulgação do disco?
Laerte: Sim, com quatro selos dividindo a distribuição do disco,
facilita bastante, pois cada um tem seus contatos pelo mundo, o que ajuda
bastante.
Som Extremo: Vocês regravaram três faixas do EP “Festering Gore...
Repulsive Stench”, de 2009. Por que essa escolha e como foi o processo de
seleção dessas músicas?
Laerte: As músicas desse EP são fruto da nossa primeira gravação,
material esse que teve uma divulgação pequena, pois foi lançado por um selo
francês, no formato pro cd-r, e com uma tiragem bem limitada, de apenas 100
cópias. Então, nem todo mundo teve a oportunidade de adquirir esse material que,
em nossa opinião, tem boas composições. Com isso, a gente escolheu esses três
sons para serem incluídos no CD, sendo uma espécie de faixas bônus.
Som Extremo: Em relação à letra que leva o nome da banda, vocês se
referem à própria qualidade da carne dos integrantes ou à carne de maneira
geral? (risos)
Laerte: Acho que sim (risos). Retrata como seria o sabor da carne
humana em decomposição, uma carne bem rançosa. Mas essa letra vai mesmo como
forma de protesto. Acho que um ser que passa a maior parte da vida comendo
porcarias industrializadas, tendo atitudes ruins com os seus semelhantes e sem
ter o mínimo de cuidado com o seu próprio habitat natural, não deve ter uma
carne com um sabor bom (risos).
Som Extremo: E sobre a arte gráfica, o que pode falar sobre ela?
Laerte: Eu já conhecia o trabalho do Putrid. Tenho alguns CDs, LPS
e DVDS que têm capa desenhada por ele, então resolvi entrar em contato para
saber se existia a possibilidade de ele desenhar a capa do nosso disco. Felizmente
conseguimos ter uma arte excelente, e que retrata bem a temática do álbum e da
banda. Ficamos bem satisfeitos com o resultado final.
Som Extremo: A evolução de vocês é impressionante. Conseguiram se
manter muito brutais, mas ficaram mais técnicos e incorporaram elementos Death
Metal/Splatter nas composições no novo trabalho. Concorda com isso?
Laerte: Sim, concordo plenamente com sua observação. Acho que agora
a gente conseguiu realmente soar como o Rancid Flesh que queremos e idealizamos
desde o início. É latente que os sons para esse CD tiveram uma pegada mais Death
Metal nos riffs. Temos muita influência de Carcass, Impetigo, Haemorrhage,
Pungent Stench, Pathologist, Machetazo etc. Todas, apesar de serem Splatter,
têm uma pegada mais Death Metal, alguns menos, como o Haemorrhage, outras mais,
como o Pungent Stench. Outra coisa que pode ter influenciado é que o Adriano
toca também na banda Death Metal Sanctifier e, a partir daí, pode ter
incorporado nas suas influências musicais algo mais na veia do velho Death. O
certo é que o som deu uma modificada sim, porém sem perder a essência do que
nos propomos a fazer, e agora estamos com um som mais com a cara do Rancid
Flesh.
Som Extremo: É uma pergunta boba, mas nunca fiz para banda alguma: qual
é o prazer de se falar de doenças, torturas e desgraças em geral? (risos)
Laerte: Na realidade, não é simplesmente um prazer em falar sobre
estes temas de forma vazia, mas sim é mais uma forma de expressar a indignação com o ser humano. O homem quer
demonstrar poder, que é acima de todos, mas que na realidade não o é. Nosso
corpo é muito frágil, pode acontecer de surgir uma doença que o atinge e que
acabe com esse poder que ele pensa que tem, em pouco tempo. Não menos diferente
é o nosso mundo atual, só desgraça. Basta ligar uma TV ou acessar a internet,
que as notícias serão, na sua grande maioria, sobre desgraças ao redor do planeta.
Isso é fruto do modo de vida que temos e da grande desigualdade social que
assola o planeta. Esse tipo de coisa está aí para qualquer um ver, e não apenas
estampado na capa de um CD ou nas letras de bandas Splatter. Então, falar sobre
doença, tortura e temas de horror são meios de mostrar o quanto somos frágeis,
temos um corpo desprotegido. Um ser simples e desprezível como uma bactéria
pode ter uma força de devastação quando está no corpo humano de tal maneira que
pode causar a morte de uma pessoa em pouquíssimo tempo, ou causar sequelas para
a vida toda. Todos somos frágeis e estamos sujeitos a isso, ou seja, o ser
humano mais miserável do mundo, bem como o ser humano mais rico e poderoso do
planeta, estão sujeitos às mesma mazelas e doenças, e têm o mesmo corpo
fragilizado. No fim, somos todos iguais, independentemente de crença, raça, cor
etc. Não é apenas falar sobre doença e desgraça, mas uma forma de crítica
social e uma forma de mostrar o quanto vulneráveis somos, independentemente de
ser rico ou pobre, preto ou branco.
Som Extremo: Vocês se apresentam ao vivo? Não pensam em chamar um
baterista de verdade, mesmo para gravar no estúdio?
Laerte: A gente não se apresenta ao vivo. Não digo que nunca iremos fazer isso, mas é bem pouco
provável, pois o Rancid Flesh é mais um projeto de gravação do que uma banda
propriamente dita. Além disso, Adriano e eu moramos em cidades diferentes e
distantes, então tudo fica mais difícil. Também não temos planos para colocar
um baterista de verdade no Rancid Flesh, até porque o Adriano programa bateria
muito bem. Já enganamos muita gente que pensava que a bateria era realmente
tocada por uma pessoa, mas a realidade é que ela é programada por uma pessoa.
Sei que muita gente não gosta disso, mas essa é a realidade do Rancid Flesh e
possivelmente permanecerá desta forma.
Som Extremo: Como dito no início, vocês contam já contam com vários
splits e um EP, além do novo disco. Com toda essa produtividade, vale
perguntar: já estão compondo novo material?
Laerte: Sim, estamos compondo novo material. Apesar de termos uma
discografia razoável, a nossa última gravação, que é a do CD, foi gravada em
novembro de 2011, ou seja, tem mais de um ano que estamos sem gravar nada. Estamos
fazendo alguns sons para um split 7” EP com uma ótima banda que é nova e também
lançou o seu CD recentemente. Quando
tudo estiver fechado, será melhor divulgado. Temos também pretensão de lançar
material novo e exclusivo em tape profissional, de forma limitada. Estamos
estudando algumas possibilidades de viabilizar isso. Espero realmente que isso
ocorra, pois gosto muito do formato tape.
Som Extremo: Planos para um videoclipe?
Laerte: No momento, não temos nenhum plano para um videoclipe, mas
é possível que ocorra.
Som Extremo: Alguma informação que o entrevistador não perguntou e você
gostaria de acrescentar?
Laerte: Queria informar que o nosso CD está à venda e quem tiver
interesse em escutar alguns sons do disco é só acessar www.reverbnation.com/rancidflesh.
Todos os selos que lançaram o disco têm
loja virtual, então, tá fácil de achar o disco.
Som Extremo: Agradeço a entrevista, Laerte! Por favor, deixe uma última
mensagem.
Laerte: Eu que agradeço a entrevista, Christiano, e todo o apoio que
você tem dado ao Rancid Flesh. Grind abraço!
Contatos:
BOA!
ResponderExcluirMais uma vez, o Som Extremo chega na frente!
Uma das melhores bandas brasileiras dos últimos tempos, ficando ao lado do Offal, Zombie Cookbook e Lymphatic Phlegm.
ResponderExcluirPS: Mentira do Laerte dizer que ele e o Adriano são de cidades distantes. Eles podem marcar uma apresentação muito facilmente. Fortaleza é quase do lado de Natal.
SOM FAJUTO!
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