quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Entrevista - Marcelo Medeiros - Carnificina Records


Marcelo Medeiros é um cara que fez e faz grandes realizações no underground nacional. Apaixonado por música extrema, ele criou o Carnificina Grindcore, webzine respeitadíssimo e completo, todo voltado a bandas Grind/Goregrind e afins. Posteriormente criou o selo Carnificina Records, também dedicado ao bom barulho. Em entrevista ao blog Som Extremo, Marcelo conta muito mais sobre os negócios, em uma matéria interessantíssima e muito rica. Vamos lá!

Som Extremo: Muitos não têm ideia de que, anos atrás, você comandou um dos maiores e mais completos webzines de música underground do Brasil, o “Carnificina Grindcore”. Aquilo era um verdadeiro sonho para fãs de música extrema. Você poderia falar sobre esse webzine? Por que você parou com o projeto?
Marcelo Medeiros: Primeiramente gostaria de agradecer suas palavras ao meu finado e humilde webzine, e também a oportunidade desta entrevista.
Comecei escrever o webzine justamente porque não existia nenhuma mídia online que falava somente de Grindcore. Minha maior influência era o “Braindead Webzine”, da França, que tinha tudo que eu queria escutar. No início eu não sabia nem como começar, pois não tinha contato com ninguém que curtia o tipo de som. Tinha um amigo (Henrique Jesus) que possuía um zine HC e divulgava os shows aqui do Rio, que me deu umas dicas de HTML. Na época, nem usávamos MSN, usávamos ICQ e ficávamos trocando ideia para manter um visual legal e tal. Então comecei a fazer resenhas de meus próprios CDs, depois de CDs de meus amigos que pegava emprestado. Mais tarde, o Marco Moriguti, da Loft Storm Records, mandou alguns lançamentos dele para eu resenhar, sem mesmo eu pedir, e o Fernando (Camacho), da Black Hole, também mandou alguns, além de algumas bandas. Depois, recebi alguns do exterior enviados por bandas e selos.
Posteriormente entrevistei algumas bandas brasileiras e depois do exterior, estas com a ajuda do Henrique (Jesus) e também do Julio (SERIAL KILLER e COISA RUIM), que me ajudam com as traduções. Tirando isso, eu fazia tudo sozinho, resenhas, entrevistas contatos com gravadora, construção do site, tudo.
Era bem legal e divertido fazer o zine, ganhava CDs, mantinha contato com os caras das bandas que eu gostava, ver show do NAPALM DEATH com credencial em cima do palco foi foda. Mas depois comecei num trampo novo, que estava tomando muito o meu tempo e quase não tinha oportunidades para escrever. Para piorar, o site de hospedagem que eu usava começou a cobrar pelo serviço e aí, larguei de vez. Pensei em voltar algumas vezes, a pedido de muita gente, mas acho que não rola mais não, não tenho mais paciência para escrever (nota do redator: que pena, o Carnificina Grindcore era genial).

Som Extremo: Como foram os passos, do fim do CG à criação do selo Carnificina Records?
Marcelo: Sempre tive vontade de ter um selo e de lançar algumas bandas. Eu já tinha contato com bastantes selos lá de fora, tanto que distribuía alguns CDs por aqui, principalmente no Rio. Minha experiência se deu ainda na época do zine, com o lançamento de MOLÉSTIA – “D.N.A” em CD-R,  formato que na época era novidade.  Eu tinha criado um selo paralelamente ao zine, mas seu fim foi decretado na mesma época do zine.
Anos depois, fui chamado pelo Vinicius e pelo pessoal da HORRIFICIA. A banda precisava de ajuda para lançar o disco e então falou com Vinicius, que conversou comigo. Inicialmente a ideia era lançar o material como dois selos, mas eu não queria assumir um compromisso naquele momento e acabei fazendo uma parceria com o Vinicius. Juntos lançamos HORRIFICIA (RJ)/ RAPED BITCH – split –CD; INTESTINAL DISGORGE – “Vagina” – CD e AGORHY – “Ruptura” – CD.
Depois saí fora e a CARNIFICINA começou imediatamente com o fim da minha parceria. Um cara que me ajudou bastante, tanto na época da Humanos Mortos, como no início da CARNIFICINA RECORDS,  foi Marco Moriguti (LOFT STORM RECORDS/SONIC DEATH RECORDS). O cara sempre me deu a maior força e várias dicas que foram muito bem aproveitadas. Até hoje trocamos ideia sobre o que é bom e sobre o que é ruim para um selo e para uma banda. A opinião dele sempre teve muito valor.

Som Extremo: Hoje, quais as maiores dificuldades em manter um selo underground?
Marcelo: Muita coisa dificulta, seja a internet, que fez muita gente que conheço parar de colecionar; a alfândega, que prende material, muitas vezes cobrando taxas altas de importação ou muitas vezes não entregando os materiais, devolvendo-os ao remetente.
Consigo entender que meus amigos fora da cena baixem ou comprem um CD pirata, pois funk, axé, pagode etc são músicas descartáveis. Nada contra o gosto musical de cada um, mas são músicas passageiras e descartáveis mesmo para quem gosta, então não acho que faz sentido comprar um disco de 20 reais para ouvir durante um mês e depois não saber o que fazer com ele. Mas com Rock é diferente, as músicas nunca se perdem. “Scum” (N.R.: do Napalm Death) foi lançando em 1987. Eu o escuto até hoje e parece que esta cada dia melhor. Não é um dinheiro jogado fora, pelo contrário, é um dinheiro investido, vai ver hoje quanto os clássicos originais do punk nacional, “Sub”, “Crucificados pelo Sistema” valem, e isso são apenas exemplos pequenos.
Outra coisa que dificulta são os valores altíssimos de impostos, local e também de importação. O valor de fabricação de vinil no Brasil é três a quatro vezes maior do que na Europa e nos EUA. Não existe incentivo para a cultura de nenhum jeito.

Som Extremo: Até hoje, qual foi a principal conquista da Carnificina Records?
Marcelo: Fico muito feliz em ver a satisfação de meus amigos adquirindo um disco que não se encontra facilmente por aí. Sou fã de Grindcore, e só de já estar envolvido nisso, é uma grande satisfação.

Som Extremo: Existe alguma ou algumas bandas que você destacaria em seu cast?
Marcelo: A única banda que lancei pela CARNIFICINA RECORDS foi o INTESTINAL DISGORGE. Existem planos para lançar o LIFELOCK, do Espírito Santo, e também vamos lançar um split do ANOPSY-RJ com uma banda Suécia, mas o próximo lançamento deve ser "Monstro Brasilis", da banda carioca ORRÖR (ler resenha aqui). É uma banda nova, mas que tem muito potencial e que muita gente está gostando. Se você não conhece, recomendo que procure ouvir.http://www.reverbnation.com/orrorbrasil

Som Extremo: Qual o diferencial da Carnificina Records em relação a outras gravadoras, selos e distribuidoras?
Marcelo: Como gravadora, não posso falar muito, mas não me vejo lançado uma banda que não tenha a ver com a música extrema e agressiva, ou simplesmente uma banda que eu não curta. Na época que fazia parte da Humanos Mortos!,  cheguei a vetar o lançamento de uma banda, por considerar que não tinha a cara do selo, mesmo os integrantes sendo meus amigos e o lançamento ser bastante proveitoso para o Carnificina. Acho que tem que ser visto o lado ideológico também.

Som Extremo: Quais os próximos lançamentos da Carnificina Records?
Marcelo: Como dito antes:
ORRÖR - "Monstro Brasilis" - CD
ANOPSY/banda da Suécia ainda a ser confirmada – Split - CD
Tenho planos para outros lançamentos, mas nada confirmado ainda, não depende só de mim.

Som Extremo: O blog Som Extremo agradece a entrevista, Marcelo! O espaço agora é seu!
Marcelo: Eu é que agradeço a oportunidade, Christiano. Me desculpe a demora para responder esta entrevista, a correria aqui é demais. Com o trabalho/selo, acaba sobrando pouco tempo, eu sei como é para você, também já escrevi zine. Abraço a todos os leitores do Som Extremo e continuem apoiando a cena.

TOP 5:
IMPETIGO – Ultimo Mondo Cannibale
DISRUPT – Unrest
NAPALM DEATH – From Enslavement to Obliteration
REGURGITATE  – Effortless Regurgitation of Bright Red Blood
REPULSION - Horrifield

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