sábado, 17 de setembro de 2011

Entrevista - Crucifixion BR


Outra grandiosa banda gaúcha de metal extremo, a Crucifixion BR atesta que a supremacia da cena underground do sul continua insuperável em termos de conjuntos de qualidade. O trio lançou recentemente o ótimo EP “War Against Christian Souls” (ler resenha aqui), bastante elogiado pela crítica especializada e pelos fãs brasileiros e internacionais da banda. É o que afirmam a baterista Darkmoon e o vocalista/guitarrista Lord Grave War em entrevista via e-mail ao blog Som Extremo. Além disso, eles falaram sobre os planos futuros do conjunto e também sobre o cenário atual onde estão inseridos, entre outros assuntos. Bem, hora de ouvir o que a dupla tem a declarar.



Som Extremo: Contem um pouco da história da Crucifixion BR.

Lord Grave War: Crucifixion BR é uma banda originária de Rio Grande, surgida em 1996 com a proposta de fazer black metal com influências oitentistas do estilo, como Celtic Frost, e também bandas dos anos 90, como Emperor, Mayhem, Satyricon,  Impaled Nazarene, Rotting Christ, e etc. Em 2004, o grupo se mudou para Porto Alegre, capital gaúcha, procurando expandir seus horizontes, tanto na cena regional, quanto na brasileira e claro, na mundial também!

Darkmoon: Nós fomos a primeira banda de Black Metal em Rio Grande, e na época existia uma cena forte do thrash e heavy metal. Como temos influência de toda essa época, nosso som ficou bem mesclado, não nos bitolamos apenas no black metal, e aperfeiçoamos nosso som com o passar dos anos, deixando-o um pouco mais complexo, diferente da maioria das bandas de black. No início de 2002, conhecemos um sueco chamado Jan Felipe Queiroz, filho de um riograndino, que estava de férias em Rio Grande, e acabou curtindo nosso som e tocando baixo conosco. Assim, gravamos 2 demos com ele, que são a “Diabolical Profecies” e a “In The Shadows Of The Obscurity” que,  apesar da qualidade de demo, gravadas num estúdio com poucos recursos, receberam uma boa crítica por parte de revistas e webzines daqui e de fora também. Então vimos que seria melhor para a banda mudar para Porto Alegre. Desde então, fizemos vários shows na região, inclusive abrindo para o Krisiun em dezembro de 2007, e no ano seguinte começamos a gravar o tão esperado álbum, que foi terminado apenas em março de 2011. Afinal, por sermos uma banda independente, tudo fica mais difícil, como sempre.


Som Extremo: Vocês soltaram recentemente o fantástico EP “War Against Christian Souls”. O que podem falar do trabalho? Como tem sido o retorno do público?

Lord Grave War: Primeiramente, valeu pela crítica positiva em relação ao EP. Em relação ao público, estão achando muito foda, curtindo pra caralho o resultado geral.

Darkmoon: Então, nós lançamos esse EP com 3 faixas do álbum “Destroying The Fucking Disciples Of Christ” (ainda a ser lançado) pela Satanica Productions, um selo independente da Nova Zelândia. O trabalho também está sendo distribuído pela Profanação Metálica Distro, de Cuiabá/MT, para dar uma amostra deste som para a mídia especializada e para os fãs, já que será nosso primeiro registro full-length, um passo muito importante na carreira da banda. Visamos alcançar uma gravadora num nível condizente com o álbum, para então lançá-lo. Quanto aos nossos fãs, temos tido uma grande receptividade e respeito, principalmente pelo pessoal de fora do Brasil, que tem curtido as músicas que estão no Myspace. Tenho recebido muitos comentários de pessoas de várias partes do mundo via Facebook, o que me deixa muito satisfeita e orgulhosa do nosso trabalho, que demorou 3 anos para ser concluído.


Som Extremo: Esse trabalho é a prévia do full-length “Destroying the Fucking Disciples of Christ”. Já podem adiantar alguns detalhes sobre o álbum ao Som Extremo?

Lord Grave War: O álbum em si está na mesma linha, com qualidade sonora e mixagem da mesma forma, como também as músicas que misturam todas nossas influências. Nesse play foram gravadas todas as músicas de nossa carreira, das antigas às mais recentes, e já estamos trabalhando em três novas, preparando tudo para o futuro.

Darkmoon: Esse álbum possuirá 13 faixas, incluindo uma música-tributo ao Venom, chamada ‘Schizo’. A capa, a princípio, seria a mesma do EP, mas estamos querendo bolar uma nova arte. Aliás, o esboço da capa do EP foi feito por Bjorn Schistad, um artista gráfico da Dinamarca.


Som Extremo: O som de vocês tem muito de black metal, e em menos quantidade, death metal. Concordam? O que podem dizer sobre isso? Quais suas influências?

Lord Grave War: Sim, concordo. Eu ouço muita coisa antiga de death metal, thrash oitentista e principalmente black metal, é claro. Quando escrevo as músicas, elas vão surgindo naturalmente, procuro fazer um trabalho não forçado e que não soe maçante para o ouvinte, tipo “vai ser ultra rápida, ou vai ser cadenciada, etc”. Não existem regras para nós. Elas vão surgindo conforme o que vou sentindo. Misturo todas essas influências, incorporando tudo da forma mais extrema e obscura, e assim, dando origem a um black metal original e brutal. As influências são muitas, mas para citar algumas: Mayhem, Morbid Angel antigo, Sepultura antigo, Slayer antigo, Celtic Frost, Bathory, Venom, Kreator antigo, Deicide, Hellhammer, Impaled Nazarene, Immortal, Satyricon, Emperor, Behemoth, Dark Funeral, Dark Throne, Rotting Christ e muitas outras!

Darkmoon: Sim, e também acredito que se percebe um pouco de thrash, inspirado no Sepultura antigo, entre outros, além de partes acústicas e ambientações inspiradas em bandas como Iron Maiden, por exemplo. Minhas influências na bateria são bem variadas, como Nicko McBrain, Igor Cavalera, Dave Lombardo, Pete Sandoval, Nickolas Barker, Hellhammer, Gene Hoglan, Raymond Herrera, etc. Vale citar também bandas variadas como Dimmu Borgir, Emperor, Behemoth e Deicide, como também o estilo Doom metal, tipo Paradise Lost e Anathema antigo, juntamente com death tradicional, estilo Benediction e Gorefest. Também admiro  rock/metal progressivo como Dream Theater, Yes, Rush, etc.


Som Extremo: O fato da banda ter uma mulher na bateria causa mais admiração a quem os assiste. Concordam com isso, ou não faz diferença? Por que?

Lord Grave War: Bah, eu acho que chama a atenção sim, mas era mais impactante no começo, durante os anos 90. Claro que ainda causa certo impacto, mas hoje existem muitas mulheres tocando batera por aí. Mas uma coisa é certa: o destaque não pode ser admirado pelo fato de ser uma mulher na bateria, mas sim pelo trabalho executado da forma certa. Essa é minha visão a respeito, e acho que para muitas pessoas também.

Darkmoon: Com certeza ainda é bem chocante, pois o público, em sua maioria masculino, ainda não consegue imaginar uma mulher tocando um estilo de som mais brutal. Só depois de ver nossa performance ao vivo é que eles acreditam mesmo que é uma mulher na batera. Quando pensam que é um homem tocando, eu considero isso um elogio, pois para mim, é muito importante ter uma pegada forte, e uma boa resistência, tentando sempre superar meus limites.


Som Extremo: Qual a visão de vocês sobre religião?

Lord Grave War: A igreja é uma doença, uma forma de manipulação, um comércio, uma hipocrisia generalizada.  Tenho minha própria visão, minha própria filosofia, não sigo dogmas nem nenhuma coisa do tipo. Admiro o ocultismo , mas sem extremismos. Para resumir, tenho minha própria filosofia interior, que me guia e me dá força para continuar lutando contra a hipocrisia da raça cristã.

Darkmoon: Tenho uma visão parecida. Não sigo nenhum tipo de doutrina, a não ser a minha consciência do que é certo ou errado, assim como o que posso fazer para atingir meus objetivos na vida, já que isso depende de acreditar em mim mesma, e não de pedir ajuda a alguma estátua.


Som Extremo: Além da divulgação do EP, e do futuro lançamento do full-length, já existem mais planos para a Crucifixion BR, como turnês internacionais, videoclipes ou coisas do tipo?

Darkmoon: Sim, temos planos de fazer uma turnê na Europa e EUA, bem como algumas datas pelo Brasil, e também fazer um clipe com uma das músicas do EP. Entretanto, como ainda somos uma banda independente, obviamente vamos levar um bom tempo para conseguir concluir esses planos. Na verdade, o principal objetivo no momento é conseguir uma gravadora que possa nos ajudar nessa parte. Mesmo assim, recentemente ficamos felizes ao saber que abriremos para o grande Dark Funeral aqui em Porto Alegre no dia 12 de dezembro, no Bar Opinião. Além disso, temos um show confirmado em Porto Alegre em 29 de outubro.


Som Extremo: A cena underground aí do sul já é consolidada há anos, com ótimas bandas de metal extremo. Com isso, existe muita união entre vocês, ou é mais “cada um por si”?

Lord Grave War: Vou ser sincero: aqui no sul tá foda, é cada um por si mesmo. É triste isso. O metal está muito desunido, cara! É panelinha pra todo lado, boicote em relação a shows, só quem é da panela que participa. A gente só quer divulgar nosso trabalho, mas aqui, principalmente na região da grande PoA, tá foda, enquanto no interior do Rio Grande do Sul o pessoal é mais receptivo. Tocamos em Santa Catarina e o pessoal pirou com a gente! Trocamos energia mutuamente, e depois do show, muitas pessoas admiraram nosso trabalho e ainda falaram coisas do tipo: bah, nem era pra vocês estarem mais aqui, e sim lá fora, representando nosso país na cena do metal extremo. Isso me dá muita força pra continuar nossa saga e derrubar todas as barreiras.

Darkmoon: Pois é, há muita disputas e boicotes. Além disso, os produtores não valorizam muito as bandas e nem se preocupam muito em divulgar os shows. Na maioria das vezes, temos que fazer sozinhos essa parte, organizando nossos próprios shows, por exemplo.


Som Extremo: Vocês acham que hoje em dia, a cena underground nacional tem o merecido reconhecimento? Acham que é mais valorizada no Brasil, ou fora daqui?

Lord Grave War: No nosso caso, acho que o pessoal de outros estados do país valoriza muito o nosso trabalho, como também o pessoal de fora do Brasil. Nos sentimos muito honrados com esse apoio.

Darkmoon: Cada vez mais, temos respeito e admiração de pessoas de outros estados e de fora do país, e por consequência, vamos conquistando o apoio de alguns gaúchos. Acho que as bandas somente são reconhecidas e respeitadas depois que recebem o apoio do exterior, infelizmente.


 
Som Extremo: O Som Extremo agradece a entrevista. Gostariam de deixar algum recado mais?

Lord Grave War: Nós é que agradecemos ao som extremo pelo espaço, para divulgarmos nosso trabalho. Um forte abraço a você, e agradeço a todas as pessoas daqui do Brasil e de fora do país que, de alguma forma, apóiam nosso trabalho. Estamos nessa luta por vocês! FORÇA E HONRA! Stay Brutal!

Darkmoon: Agradeço, e muito, a você, Christiano, por todo o seu apoio! E um forte abraço a todos os bangers daqui e de fora, que entram contato conosco, deixam mensagens de apoio, e espontaneamente nos ajudam a divulgar nosso trabalho, além de comparecem aos shows quando podem. Vocês são demais! E uma saudação aos guerreiros, e em especial, às guerreiras, que estão aí na cena e que, como nós, lutam para que ela aconteça!

 

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