Apocalipse Zumbi – Alexandre Callari
Editora Évora/Generale – 2011 – Brasil
“Que Deus tenha piedade de meus inimigos, porque eu não terei!”. A frase do general George Patton, citada no livro, traduz toda a desesperança de seu conteúdo. Aliás, já fica o aviso de que essa obra é para quem tem estômago forte, e vai causar todo tipo de sentimento: ódio, revolta, temor, repugnância, pena, compaixão, e por aí vai.
O resumo da ópera é o seguinte: o mundo foi dominado por zumbis (aqui chamados de contaminados) sem explicação aparente. As pessoas simplesmente caíram todas no chão e começaram a se transformar em seres aterrorizantes, e com um detalhe: não se torna mortos-vivos que rastejam ou mancam. Não. Os bichos aqui são altamente fortes, ágeis, velozes e o pior, incansáveis.
Portanto, o foco da história não está em como surgiu a epidemia, mas em como o planeta ficou depois da tragédia – quatro anos depois, para ser mais exato.
As pessoas vivem em comunidades isoladas, entre elas o Ctesifonte, uma espécie de quartel que abriga os sobreviventes humanos. O local, comandado por Manes, vive no fio da navalha, com a convivência entre seus moradores tensa devido a uma ditadura não declarada de seu líder.
Para sobreviverem, enviam para as ruínas da cidade grupos de pessoas, chamadas batedores, para coletarem suprimentos para a comunidade. Um desses grupos sai e não retorna, e aí, Manes convoca alguns voluntários para resgatar os possíveis sobreviventes, dando início à jornada de terror.
O livro começa muito bem com uma introdução impressionante. A narração é de uma perseguição incrível, e conforme você lê, vai ficando sem fôlego ao acompanhar a correria. Sério, a descrição do cansaço físico do personagem faz qualquer um entrar em sua pele e sentir a falta de ar no peito. O mais surpreendente é o final. Muito bom!
E já no primeiro capítulo, você percebe a preocupação do autor em se aprofundar no caráter dos personagens, como no caso de Lisa, a esposa do ditador Manes. Ele desenvolve essa estratégia para todos os personagens, explanando sobre como eram suas vidas antes da catástrofe,o que facilita conhecer suas reações ao longo da história.
A obra é pura ação! E é esse o caminho escolhido pelo autor por praticamente toda a obra, impressionante. Você acompanha os personagens, e sente calafrios, torcendo para que as situações não piorem. Só que elas pioram. E como pioram. Como podem sair tantas ideias sanguinolentas de um autor que já lançou livros ligados a psicologia educação? Imagine o que se passava na cabeça de Alexandre Callari ao conseguir passar para o papel tanta criatividade! Não foram poucas as vezes em que me peguei de olhos arregalados lendo a aventura. E pensar que toda a coisa acontece em um período de apenas um dia!
Se “Apocalipse Zumbi” fosse um filme (e tomara que se torne mesmo), sabem que ritmo de ação ele teria? Mais do que o de “Adrenalina” (“Crank”), protagonizado pelo excelente canastrão Jason Statham. Aliás, fica essa dica de filmaço.
Em sua primeira sequência de carnificina, ocorrida em um metrô, Callari conseguiu uma proeza e tanto ao detalhar cenas realmente chocantes. A sensação do policial ao ver a mãe segurando seu bebê é indescritível, só lendo mesmo. Uma coisa: você realmente prende a respiração nesse momento. Violento demais!
Outra cena marcante: a batalha dos batedores em cima do prédio é memorável, escrita de uma maneira tão rica que você visualiza todos os detalhes da luta. É tão intenso que daria um grande jogo de videogame.
E o que é aquela chuva de corpos no elevador? Sério, conforme fui lendo, tive até mal estar, e putz, que agonia. O escritor teve o sarcasmo de descrever a cena com detalhes mórbidos, uma pena não poder me estender para não estragar a surpresa. Pô, Callari, dá um descanso pra gente e pros personagens!
Outro negócio interessante do livro é que ele não se resume apenas a textos. Ao longo da história, várias ilustrações preenchem as páginas da obra, uma atitude ousada e bacana. Bom, já que falei em ilustrações, não poderia deixar de falar da capa do livro. Que obra-prima!!! Apesar de ter ficado escura (ao menos nessa versão que tenho comigo, doada PELO PRÓPRIO AUTOR!), você ainda percebe detalhes como os poros na pele do contaminado. Linda de morrer (morrer – zumbis – mortos-vivos... pegaram a piada, pegaram?)
Há poucos dias, tive a oportunidade de encontrar Callari quando faltavam cerca de 90 páginas para finalizar o livro, e contei que fiquei muito revoltado com o que acontece com Liza (a esposa de Manes, para relembrar). Sabem o que ele me respondeu? “É porque você ainda não leu até o final, cara”. E ele tinha razão, para meu inconformismo.
Ninguém é santo, pelo contrário, cada um carrega um demônio dentro de si. Não é uma história de mocinho e bandido, nenhum personagem sai incólume de “Apocalipse Zumbi”. E nem o leitor. Pois é, Callari faz questão de nos provocar com sua narração maldita.
Além de tudo isso, o livro tem diversas particularidades. Não, não se trata de um simples livro de zumbis. Existem nomes exóticos de personagens (pesquise para conhecer as referências), várias críticas sociais e diferentes linhas filosóficas trabalhadas, tudo camuflado em “camadas”, como afirmou Callari diversas vezes. Cabe a quem lê sacar tudo isso.
Depois de tudo isso, é preciso reavivar a memória de todos e falar das outras peripécias de “Apocalipse Zumbi”. O livro, o primeiro do Brasil com o tema zumbi, segundo Callari, vem acompanhado de um CD com músicas heavy metal compostas pelo próprio escritor, que contratou a banda Dream Vision para gravá-la em estúdio. Além disso, para divulgar o lançamento, foi produzido um teaser/trailer (sim, um vídeo!) com cenas narradas no livro, e que podem ser conferidas no http://www.youtube.com/zumbiapocalipse.
E para não passar despercebido, falemos um pouco da música, objetivo principal deste blog. O CD é um show! Tudo bem, o estilo de música – heavy metal tradicional – que a banda gravou foge um pouco da proposta do Som Extremo, mas como é um bônus que acompanha a obra literária, é justo analisar o conteúdo do pacote. Vou dizer que esse pessoal domina seus instrumentos. São incríveis! O trabalho de gravação e mixagem também é nota 10, sério mesmo. São 7 músicas que variam entre mais e menos agressivas, com destaques para as faixas de abertura – “Dujas” – que mostra como um heavy tradicional deve soar, e “Terror Blues”, cujo título já entrega o gênero da composição. Mas essa tem toques bem modernos e pesados.
Não é exagero afirmar que com “Apocalipse Zumbi” nasce o novo gênio nacional do horror – Alexandre Callari. Guardem esse nome. A obra está programada para ser uma trilogia. Uma trilogia de desesperança, porque o final do livro é só o começo...
NOTA 9,5
qqassxxda
ResponderExcluirOpa, passei para deixar um grande abraço pela crítica maravilhosa. Valeu!
ResponderExcluirDisponha, Alexandre! Um enorme prazer escrever sobre um ótimo livro! E aí, já tô aguardando o próximo volume, quando sai? eheheh Abração, e muito sucesso!
ResponderExcluireu nuca tive a sensação de ler e ouvir musica ao mesmo tempo......eu sempre acabo me destraindo do livro e fico prestando atenção na musica,mas eu gosto de novidades.......ja q vc leu me responde uma curiosidade.......são 7 musicas pra tocar,mas agente poem o cd pra tocar e dexa rolando enquanto ta lendo ou o livro da umas "dicas" por exemplo: capitilo 4 (coloque a musica da faixa 3) ???????
ResponderExcluirTudo beleza aí? Então, na verdade, também tenho o mesmo problema que você! ahahah
ResponderExcluirse eu começasse a ouvir um CD enquanto leio, não conseguiria prestar atenção na leitura!
Então, na realidade o disco é para escutar "normalmente", sem ligações com o livro. É apenas um bônus caprichado que veio no pacote! Um abraço!