A Sodamned pode até não ser tão conhecida no país ainda, mas lá fora, já está estourando. O quarteto lançou o ótimo álbum “The Loneliest Loneliness” e voltou de uma turnê européia recentemente. Dois de seus integrantes, o vocalista/guitarrista Juliano Regis da Silva e o baterista Gilson Lange concederam uma entrevista ao blog Som Extremo, em que falaram do reconhecimento dentro e fora do Brasil, além das últimas novidades da banda e outros assuntos. Além da dupla, a Sodamned é completada por Edilson Lúcio (guitarra) e Felipe Gonçalves (baixo/vocal). Nas linhas abaixo, toda a consciência da Sodamned.
Som Extremo: Contem um pouco da história do grupo.
Juliano: A banda começou em 1999 e lançou uma demo em 2003, de forma independente. Em 2007, lançou um EP (em forma de split com a banda Dark Celebration), através do selo Face the Abyss Records e agora, em 2011, acabou de lançar seu primeiro full length, “The Loneliest Loneliness”, também de forma independente.
Gilson: Sem contar as dezenas de shows que fizemos no sul do Brasil, uma apresentação em Minas e um mês tocando em terras européias.
Som Extremo: Aliás, vocês chegaram recentemente de lá, correto? Como foi? Que lugares destacam? Algum show inusitado?
Juliano: Cara, foi perfeito. Por problemas com a nossa agência de management, dez dos dezesseis shows foram marcados mais ou menos um mês antes de a gente embarcar, o que resultou em pouca divulgação e vários shows com bem pouca gente. Entretanto, a experiência foi fantástica, nunca havíamos tocado tanto em tão pouco tempo. Para mim, os melhores shows foram os da Romênia, Bulgária e Croácia, realmente lugares fantásticos, com um público bem doido.
Som Extremo: Fora do Brasil, vocês se sentiram mais valorizados? Por quê?
Juliano: Não sei se ‘ser mais valorizado’ seria o termo, mas a coisa lá funciona de uma maneira bem mais profissional do que aqui. Lá, senti, de fato, que eu era um músico trabalhando. Tive equipamento bom, suporte dos organizadores, ganhei minha parte do combinado, enfim, a coisa fluía bem melhor do que costuma acontecer aqui. Infelizmente no Brasil, as condições são precárias em boa parte dos shows, ou você chega para tocar e não é recepcionado por ninguém, fica viajando sem saber para que lado ir, coisas do tipo. Resumidamente, a postura por lá é bem mais profissional do que aqui.
Gilson: E veja bem: a postura é realmente profissional, dos dois lados. Em um show, chegamos quinze minutos depois do programado e o dono do local cobrou da gente que não fomos pontuais e tal. O que eu senti é que nunca nos ofereceram menos do que foi prometido. Ao contrário de muitos daqui, várias vezes o organizador entregava o prometido e ainda alguma ajuda extra.
Som Extremo: Vocês lançaram recentemente o excepcional “The Loneliest Loneliness”. O que podem falar sobre o álbum?
Juliano: Posso dizer que estamos há doze anos na estrada e estava mais do que na hora de lançar nosso primeiro full length. A gente trabalhou pela segunda vez com o Roger, da Nitro Sounds, e já conhecíamos a maneira como trabalha, assim como ele já conhece o som da banda. Foi a primeira vez que nós gravamos uma pré e mandamos para o estúdio alguns meses antes de começar a gravar tudo pra valer, e isso ajudou bastante, tanto pra gente ouvir as músicas e poder tentar melhorar ou ajustar algo, quanto para o Roger ir sacando qual seria a melhor maneira de captar aquilo tudo. Trabalhamos sem nos preocupar com tempo ou com dinheiro, trabalhamos até ficar do jeito que a gente queria, e o resultado está aí para ser ouvido, dez músicas que estão nos trazendo muita satisfação.
Gilson: Depois que voltamos da Europa, não tivemos ainda nem dois meses para divulgar o CD, mas até agora estamos tendo um ótimo retorno. Ficamos realmente surpresos com algumas boas críticas que o CD está recebendo.
Som Extremo: Na minha humilde opinião, a melhor música é a instrumental “Um Enigma envolto em Mistério”. Como foi a concepção dessa canção? Por que o título em português?
Juliano: Sempre curti fazer músicas instrumentais, acho até que por influência de bandas que curto, como o Brutality ou o Rotting Christ. No nosso EP “The Garret”, lançado em 2007, a música de abertura era instrumental e por ser curta, a gente toca até hoje. A ‘Mistério...’ já é uma instrumental mais comprida e a gente acha que não funciona bem ao vivo. Por isso não a tocamos. Nosso show hoje começa com uma instrumental bem rápida também, que tem dois minutos no máximo.
Gilson: Da minha parte, meus álbuns favoritos sempre foram os primeiros quatro do Metallica, que contêm músicas instrumentais também. Sem contar que esse tipo de som pode contar com recursos que as músicas com vocais não podem, como estrutura, andamento diferenciado etc. Decidimos pelo título em português, bem, acho porque simplesmente não tinha motivo pra ser em inglês, sei lá... já que a música não tem letra mesmo, saiu em português. Além disso, gostamos desta mistura de línguas. O título também é uma homenagem ao escritor Stephen King (nota do redator: um mestre dos livros de terror e suspense).
Som Extremo: Voltando ao assunto sobre valorização: o que acham que falta para serem reconhecidos com justiça não somente no Brasil, mas lá fora também?
Juliano: Cara, eu acho que tudo se resume a marketing. Tá cheio de banda boa por aí estourando, banda ruim estourando e, principalmente, banda boa no anonimato. Esse full length é nosso terceiro lançamento e a gente nunca se dedicou tanto ao marketing e à divulgação quanto estamos fazendo agora. Você pode ser o grupo mais legal do planeta, mas se não espalhar sua música para o maior número de pessoas possível, não vai chegar a lugar nenhum. A gente tá tentando divulgar bem o CD no norte/nordeste do país, pois pretendemos tocar lá ainda em 2012. A gente acredita que precisa mesmo é ‘criar uma demanda’ pelo nosso trabalho, para então poder ter um público bacana e fazer shows legais por aí. O fato de todos na banda terem seus empregos - o Gilson tem família e tudo mais - torna as coisas um pouco mais complicadas, mas em todo tempo livre, a gente tá espalhando o nome do Sodamned.
Gilson: Claro que talvez, se morássemos em algum grande pólo do Metal, como na Europa, com sorte seria possível cair nas graças de algum bom selo ou da mídia especializada. Sem contar uma maior facilidade de fazer turnês e shows. Mas o fato é que no Brasil, principalmente no que diz respeito ao Metal extremo, isso é diferente e, portanto, temos que usar as armas que possuímos.
Som Extremo: Tendo feito uma turnê internacional e lançado um dos melhores álbuns death metal de 2011, existem planos para um videoclipe? Qual o próximo passo da Sodamned?
Juliano: Nossa, obrigado pelas palavras! É verdade, a gente sabe que um vídeoclipe ajuda bastante a banda e temos o plano para breve. Nós recebemos o CD da fábrica apenas cinco dias antes de embarcar pra Europa, então foi só agora, em outubro, depois de voltar para o Brasil, que a gente começou a trabalhar mesmo na divulgação do CD. Estamos com vários planos e estratégias e o videoclipe está entre eles. Por hora, estou editando algumas imagens captadas na Europa e montando um vídeo com cenas de palco e de backstage, mas vamos trabalhar em algo mais personalizado e profissional em um futuro próximo. Fora isso, shows no nordeste e pela América do Sul são nossos próximos objetivos, os quais serão alcançados em breve.
Gilson: E já estamos esboçando os planos para o próximo lançamento, que provavelmente sairá na forma de um novo EP.
Som Extremo: A cena underground brasileira tem apresentado bandas fantásticas. O que fazer para que isso não fique saturado? Como se destacar nesse cenário tão rico atualmente?
Juliano: Acho que buscar originalidade é lugar comum já. Temos milhares de bandas dos mais variados estilos fazendo de tudo que você possa imaginar. Creio que o principal, portanto, seja se dedicar muito ao que faz e fazer bem feito. Isso com certeza irá se refletir na sua música e será percebido pelas pessoas, dando à banda o espaço merecido.
Gilson: Acho que o principal ingrediente é realmente divulgação e buscar fazer o melhor, tanto no que diz respeito às composições, quanto à gravação e tudo mais que envolve o trabalho de uma banda, não importando se este é original ou mais tradicional.
Som Extremo: Como está a cena extrema de Santa Catarina atualmente?
Juliano: Em termos de bandas, tá foda. Tem a Khrophus, que está na estrada há muito tempo e também esteve pela Europa; a Pain of Soul (Doom), que excursionou com a gente pelo velho continente, e a Neófito, que esteve parada por muito tempo e agora voltou com força total. Para mim, a maior falha da nossa cena é o público escasso nos shows. Acho que quanto mais a galera comparecer aos shows, mais deles haverá e mais espaço as bandas terão para mostrar o seu trabalho. Banda boa é o que não falta. Estou até sendo injusto por não citar alguns nomes aqui, não haveria espaço pra todo mundo.
Gilson: Há dois ou três anos, nós tínhamos shows a cada duas, três semanas, sem contar os eventos open-air que existiam... Agora vejo os promotores meio desanimados em relação a apresentações, e este ano, temos apenas um grande evento, o “Zoombie Ritual”... E o pior é que alguns que ainda estão realizando shows não são exatamente pessoas que contribuem com as bandas da cena.
Som Extremo: O blog Som Extremo agradece a entrevista. Gostariam de decretar mais algumas malevolências?
Juliano: Cara, muito obrigado pelo espaço cedido e meu recado para a galera é que compareçam aos shows e comprem material das bandas. Só assim é que a coisa pode continuar de pé. A gente foi bastante elogiado na Europa, o Brasil tem excelentes bandas que são reconhecidas lá fora, mas falta um pouco de reconhecimento do próprio público daqui.
Gilson: É isso aí, em alguns shows lá fora, fomos bem tratados até mesmo antes do pessoal ouvir nosso som, e simplesmente pelo fato de sermos brasileiros. O pessoal do mundo inteiro adora e respeita a nossa cena. Falta o pessoal daqui fazer o mesmo. Para o pessoal que quiser conhecer a banda, acessem nosso Myspace (www.myspace.com/sodamned), que contém informações sobre a banda e nosso CD na íntegra para audição. Nos vemos na estrada pessoal! Bang ´till Death!!!!
Parabéns a banda...só falta o reconhecimento, de resto já tem tudo.
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